segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Usar o 13º salário para pagar dívidas pode ser um erro capital

Achei o texto muito interessante sobre finanças, e por isso o compartilho na íntegra.
Sds,
Joserrí de Oliveira Lucena

Utilizar o 13º salário para pagar aquelas dívidas em atraso pode estar nos planos de grande parte dos brasileiros. Mas, na opinião do educador financeiro, Reinaldo Domingos, essa alternativa é um “erro capital”.
Para Domingos, uma vez que se usa o dinheiro extra para pagar o que se deve, muitos se esquecem de um princípio fundamental da educação financeira: planejamento para atingir objetivos. “Eu sei que essa é a recomendação da maioria das pessoas e que o dinheiro extra é um grande alívio para a população, mas tratá-lo de maneira impulsiva só mostrará que não se aprendeu nada com o endividamento e que, possivelmente, se retornará a este problema em um curto período de tempo“, explica o educador.
Muitos devem se perguntar agora o que fazer com o dinheiro. Domingos sugere o primeiro passo: fazer um diagnóstico de sua situação financeira. “É certo que não dará para fazer isso de forma ampla, que seria anotando por um mês todos os gastos, mas dá para saber qual sua situação financeira”, complementa. Se realmente for de endividamento, ainda é necessário saber se está sob controle ou se já está descontrolado, ocasionando a inadimplência.
Já o inadimplente tem que tomar uma ação mais difícil, que é negociar os valores com os credores. Segundo Domingos, é importante ter em mente que as pessoas querem receber esse valor. A partir daí, é a hora de buscar um consenso. “Nunca esquecendo que o valor definido terá que caber dentro do orçamento mensal. Fora isso, é necessário readequar o padrão de vida para que, no futuro, o problema não se repita.”
Com os compromissos sob controle, ele recomenda que o décimo terceiro seja utilizado para sonhos e objetivos de curto, médio e longo prazos, no qual pode estar o de quitar as dívidas. “Para quem está endividado, mas não inadimplente, a obrigação é honrar com seus compromissos e, para que isso ocorra, os valores devem estar no orçamento mensal. Pagando tudo dentro do prazo e, se possível, adiantando o pagamento dos valores e eliminando as dívidas o mais rápido possível, essa pessoa nunca terá problema”, finaliza.
Texto adaptado – site www.infomoney.com.br-20/11/2014 – Luiza Belloni Veronesi.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

A Ética dos Planos de Saúde

Há tempos venho observando que os Planos de Saúde de forma reiterada, como "modus operandi" natural, negam ou obstacularizam o acesso dos associados a procedimentos médico-hospitalares: de meros exames laboratoriais a cirurgias eletivas, o ritual envolve agendar, autorizar, carimbar, periciar, renovar...

Sem nenhum pudor os planos negam procedimentos, e chegam a alegar que alguns não são necessidade real, mas puramente estéticos... censurando e ridicularizando os demandantes - inclusive pagando bancas de advogados com recursos do cliente, para negar-lhe o direito de saúde suplementar.

É como se o plano de saúde existisse apenas para juntar dinheiro, construir e manter mega-estruturas para impressionar o mercado, mas efetivamente e sobretudo, economizar ao máximo os recursos advindos das mensalidades (cada vez mais caras)...

Paradoxalmente, parte das despesas que DEVERIAM se reverter em prover qualidade de vida aos adquirentes de Planos de Saúde, têm sido destinadas ao que se chama "ações de marketing". É com base numa dessas ações, que o plano de saúde UNIMED patrocina o time do Fluminense, com cerca de R$ 100 milhões ao ano (a diretoria diz que são só R$ 56 milhões)...

Ou seja, para a UNIMED é ÉTICO destinar os recursos economizados com a negativa de procedimentos a pacientes com doenças (simples ou graves) para pagar vultosos salários a jogadores como Fred (que tem uma saúde de ferro!).

Joserrí de Oliveira Lucena


quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Ofender-se e ofender; Por quê?

Semana passada reencontrei uma colega de Faculdade, que não via há algum tempo (estudamos juntos nos últimos anos da década de 1980).

Comentou que uma parente dela, muito emocionada, havia lido o depoimento de meu filho Jesiel, acerca do Ciências Sem Fronteiras - e que ela disse que havia estudado com o pai desse rapaz lá em Caicó...

Microempresária, lamentou-se ainda que só a duras penas consegue manter-se no mercado, pois "ESTE" governo não ajuda os empresários... que a carga tributária é alta demais... e que A Candidata não merecia receber nossos votos...

Na breve conversa, ficou claro que seus problemas mais graves são a concorrência dos produtos da China, o fato de suas clientes atualmente preferirem fazer compras nos Estados Unidos... e, o pior dos pesadelos: não consegue mais sonegar nadinha, pois hoje tudo está informatizado!

Passado o pleito, eis que recebo sua visita, hoje, no meu local de trabalho, de forma aparentemente não planejada. Disse que estava ali para me trazer uma mensagem de Parabéns (mais ou menos com as seguintes palavras - que narro de forma bem resumida):

- Muito bem! Você está feliz, não é? Seus candidatos foram Todos eleitos...
Agora se prepare: os juros vão "desembestar", vai tudo subir... tudo por culpa sua! Cadê? Prá quanto já subiu os juros???

Fiquei surpreso. Não esperava essa atitude da parte dela... que ainda continuou:

- Eu que tanto carreguei bandeira do PT um dia, nunca imaginei que o povo ia eleger aquela VAGABUNDA da Fátima como Senadora, enquanto nós, empresários, temos que dar um duro danado prá sustentar esses VA-GA-BUN-DOS do PT!!!

E foi ainda mais ofensiva - dessa vez no particular:
- Olhe, quem quer ter filho no exterior, tem que TRA-BA-LHAR, como eu trabalho, prá sustentar ele morando lá...

Jamais esperava ouvir tantos impropérios AO VIVO, E À CORES... bem ali, na minha frente.

Gesticulando, dedo em riste e falando alto, ela disse bem mais do que o narrado acima... sem qualquer reação de minha parte. Fiquei em estado de choque.

Deixei-a ir-se com sua indignação, e voltei pro meu Trabalho, que é atender demandas de empresários (dela inclusive) com acesso a crédito subsidiado, em condições que proporcionam a viabilidade sustentável de empreendimentos, ante um cenário internacional desfavorável...

Só eu sei como fiquei por dentro, remoendo aquelas palavras o restante do dia, e imaginando como uma pessoa é capaz de ofender-se tanto com a escolha do outro, a ponto de também ofendê-la. Por quê?

Joserrí de Oliveira Lucena

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Dilma e os votos que ganhou...

Conforme disse antes do primeiro turno, não estava confortável para votar em Dilma (e ainda continuo).

Entretanto, por acreditar que a Democracia se faz de forma construtiva, não ficarei omisso no segundo turno, nem muito menos ferirei meus princípios e coerência.

Jesiel (meu filho mais velho), conforme disse há poucos dias, lamenta não estar no Brasil, para votar em Dilma. A família, entretanto, vota por ele; não é por dívida, nem medo, nem cabresto: é por entender que é a opção que mais se assemelha a nossa forma de pensar.

Entretanto, não é um voto passivo; continuaremos voz ativa no sentido de denunciar as injustiças e brigar por um país com oportunidades reais para todos.

O depoimento dele expressa uma trajetória de nossas vidas e o orgulho de ter ido mais longe do que sonhávamos.

Ficamos orgulhosos de ver que o Instituto Lula e a página do ex-presidente no Facebook postaram seu depoimento (clique aqui e leia).


Obrigado pelas milhares de repostagens do depoimento de Jesiel, que exerce sua cidadania de forma plena e democrática.

Joserrí de Oliveira Lucena

Ps.: Após perder a eleição de 1989, Lula fez uma caravana pelo país; quando de sua passagem por Caicó, onde morávamos, fomos vê-lo (fomos do Comitê Evangélico Pró-Lula em todas as candidaturas dele)... naquela noite cumprimentei o candidato e fiz este registro histórico...



sábado, 4 de outubro de 2014

Dilma e os votos que perdeu...

Eu votei no PT durante 25 anos, mas quero mais mudanças na forma de fazer política.

Meu filho Jesiel Lucena, por sua vez, votaria em Dilma, se estivesse no Brasil: está nos Estados Unidos, pelo Ciências Sem Fronteiras.

Nas razões dele, há uma leitura lúcida da trajetória que nos trouxe até aqui. E foi uma luta árdua.

Dilma perdeu muitos votos como o meu e o dele (por razões diferentes).

Mas, se houver um segundo turno, levarei a opinião dele em conta na hora de decidir minha posição.

Joserrí

Jesiel, em Worcester - EUA


Dilma merece meu voto - por Jesiel Lucena

Dilma Rousseff merece meu voto. Principalmente por que no próximo dia 5 de Outubro eu não poderei votar nela.

Estou nos Estados Unidos fazendo um mestrado em Desenvolvimento de Jogos, a área que eu sempre sonhei estudar, com tudo pago pelo meu governo.

Nasci um menino do interior do Rio Grande do Norte. Minhas perspectivas de passar no vestibular eram mínimas. Ter um curso superior era considerado luxo na minha infância. Algumas noites meus pais não sabiam com que dinheiro iam comprar comida pra mim no dia seguinte, e comer vem antes de estudar. Nunca passei fome: meus pais (Joserrí e Joana Darc) lutaram muito pra não me deixar sofrer com as condições precárias que minha família enfrentou durante os anos 90. O Bolsa Família não existia na época, mas teria evitado muitos apertos e momentos difíceis.

O improviso e a precariedade deram lugar ao conforto na década de 2000. Meus pais passaram em concursos públicos (e eles trabalham muito, não me venham com a falácia de que ser concursado é moleza). A essa altura, minha família já estava bem localizada na classe média. Vi a vida de muitas pessoas no Nordeste mudando junto, durante as gestões do presidente Lula.

Consegui passar no vestibular aos 17 anos, e me mudei pra Natal. Cursei Engenharia da Computação e comecei a trabalhar cedo, no meu segundo semestre. Nunca me faltou emprego. Testemunhei a UFRN dobrando de tamanho em número de alunos e instalações durante meu curso superior. Tive uma educação gratuita e de qualidade. Vi grandes investimentos no Prouni, Projovem, Pronatec, institutos técnicos federais, ENEM, bolsas da CAPES, FIES e mais um monte de programas ajudarem pessoas que não tinham as mesmas oportunidades que eu.

Acompanhei o nascimento do Ciência sem Fronteiras. Bolsas de graduação-sanduíche em universidades incríveis ao redor do mundo. Não pude me inscrever por que estava muito próximo de concluir meu curso superior. Apesar disso, participei do primeiro edital de bolsas pra Mestrado Profissional do CsF. Passei, e hoje estudo Interactive Media & Game Development noWorcester Polytechnic Institute (WPI), uma das melhores universidades particulares dos EUA. O governo pagou U$ 130.000,00 adiantados pra a faculdade. Em troca, eu voltarei para o Brasil depois dessa pós-graduação com bastante experiência pra fomentar o mercado de Games, e o farei com imensa gratidão.

Não consigo descrever em palavras o quão grato eu sou por ter vivido numa época em que pude não só vislumbrar, mas participar do desenvolvimento econômico e educacional do meu país. Nunca, nos últimos 514 anos, ninguém se importou tanto com todos os brasileiros. Nunca, aos 10 anos de idade vivendo em Caicó/RN, eu me imaginaria nesse lugar, tendo as oportunidades que eu tenho hoje.

Eu sou infinitamente grato a Lula, Dilma e os governos do PT por terem me tirado daquela falta de perspectiva e me posto onde estou hoje. Se eu tivesse que descrever minha vida em uma palavra, eu falaria "inimaginável".

No próximo dia 5 de Outubro eu não poderei votar. Votaria em Dilma se pudesse. Se você ainda estiver lendo esse texto até aqui, espero que compartilhe da imensa alegria que sinto quando penso em tudo que mudou durante meus 23 anos de vida. Dilma merece o meu voto, e o de vocês também.
 — em Worcester Polytechnic Institute (WPI).

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

A gente pode mudar o mundo... um pouco de cada vez!

Um dia pensei em dar minha contribuição como candidato, uma opção para pessoas que, como eu, estão cansados de ser enganados pela megaestrutura político-partidária.

Cheguei a escolher um partido político; na pressa, me filiei ao que me pareceu conveniente (muito rápido descobri que nossas ideologias não se afinavam) mas dei um stand by antes de tornar a relação mais profunda.

Sou coerente com minhas posições, e fiquei feliz em ver que me identifiquei, ao longo dessa campanha, com outro partido, de pessoas como Luciana Genro (presidente), Robério Paulino (Governador pelo RN), Marcos Tinoco (Federal) e alguns outros.

É bom descobrir que há pessoas que pensam parecido com a gente, no aspecto ideológico, e que se dispõem a nos OUVIR e nos representar.

Me prometi conhecer mais de perto as propostas do PSOL ao longo dos próximos anos, por que ainda teremos muitas outras oportunidades de manifestar a opinião, através do Voto, e de escolher porta-vozes que constroem o debate de idéias por uma Sociedade mais justa, não apenas em 3 meses de campanha eleitoral, mas ao longo da vida.

Entre desistir e ter esperança, eu escolho continuar lutando para mudar a realidade, para melhor. Sei que mundo Justo é um sonho distante; por isso comemoro parar a Injustiça, sendo a representação um instrumento pelo qual as minorias se inserem nas megaestruturas para implodí-las e construir algo novo.

Leva tempo, mas a gente consegue mudar o mundo, com um voto de cada vez.


domingo, 28 de setembro de 2014

Família saindo do armário...

Faz tempo que buscamos palavras para dizer que saímos do armário, a família toda - há tempos... 
O pastor John Pavlovitz disse tudo que gostaríamos de ter dito, e resolvemos subscrever o texto dele, embora sabendo que ele fala apenas subjetivamente.
Um cheiro no coração nos que não entenderem. Uma pena. 
Leiam o texto logo a seguir...

https://www.facebook.com/johnpavlovitzofficial 

Às vezes eu penso se terei filhos gays.
Eu não sei se outros pais pensam sobre isso. Mas eu penso. Muito frequentemente.
Talvez seja porque eu tenha muitos gays na minha família e círculo de amigos. Está em meus genes e em minha tribo.
Talvez seja porque, como pastor de estudantes, eu tenha visto e ouvido as histórias de horror de crianças cristãs e gays, dentro e fora do armário, tentando fazer parte da igreja.
Talvez porque, como cristão, eu interaja com tantas pessoas que acham a homossexualidade a coisa mais repulsiva de se imaginar e que fazem questão de deixar isso abundantemente claro a cada oportunidade.
Qualquer que seja a razão, eu penso nisso frequentemente. Como pastor e como pai eu quero fazer algumas promessas a você e aos meus dois filhos.
1) Se eu tiver filhos gays, todos vocês saberão disso.
Minhas crianças não serão nosso mais bem guardado segredo familiar.
Eu não vou desconversar com estranhos. Eu não vou falar em linguagem vaga. Eu não tentarei colocar um venda nos olhos de todos e eu não pouparei as emoções dos mais velhos, ou dos que se ofendem facilmente ou dos desconfortáveis. A infância já é difícil o suficiente e a maioria dos gays passam sua existência se sentindo horríveis, excruciantemente desconfortáveis. Eu não colocarei os meus filhos em mais desconforto desnecessário só para fazer o jantar de Ação de Graças mais fácil para um primo de terceiro grau rancoroso.
Se meus filhos saírem do armário, sairemos do armário como família.
2) Se eu tiver filhos gays, eu orarei por eles.
Eu não orarei para que eles sejam “normais”. Já vivi o suficiente para saber que, se meus filhos forem gays, este é o normal deles.
Eu não orarei para Deus curá-los ou consertá-los. Vou orar para que Deus os proteja da ignorância, do ódio e da violência que o mundo despejará sobre eles simplesmente por eles serem quem são. Vou orar para que Deus lhes coloque um escudo de proteção contra aqueles que os desprezam e querem machucá-los, que os amaldiçoam ao inferno e que os colocam como condenados sem nem mesmo conhecê-los. Eu orarei para que eles apreciem a vida, o sonho, que sintam, que perdoem e amem a Deus e a humanidade.
Acima de tudo, orarei para que meus filhos não recebam o tratamento nada cristão de suas ovelhas mal guiadas a ponto de afastá-los de seus caminhos.
3) Se eu tiver filhos gays, eu os amarei.
Não estou falando de um amor distante, tolerante e cheio de reservas. Será um amor extravagante, de coração aberto, sem desculpas. Aquele tipo de amor que constrange na porta da escola.
Eu não vou amá-los apesar de sua sexualidade nem vou amá-los por causa dela. Vou amá-los simplesmente por serem quem eles são: doces, engraçados, carinhosos, inteligentes, legais, teimosos, originais, lindos e… meus.
Se meus filhos forem gays, eles poderão ter milhões e milhões de dúvidas sobre si mesmos, sobre o mundo, mas nunca terão um segundo de dúvida sobre o amor que o pai deles sente por eles.
4) Se eu tiver filhos gays, basicamente, terei filhos gays
Se meus filhos forem gays – e eles já são bem gays… [gay em inglês significa, antes de tudo, alegre] Bem, isso quer dizer que Deus já os criou e os moldou e colocou neles a semente de quem eles são dentro deles. O Salmo 139 diz que Ele “os costurou no útero de sua mãe”. Para mim isso quer dizer que as incríveis e intricadas coisas que os fazem almas únicas na história foi colocado em suas células.
Por isso, não há um “deadline” para a sexualidade deles pela qual eu e sua mãe estejamos orando fervorosamente. Eu não acredito que haja alguma data de expiração mágica se aproximando quando eles “se tornarão héteros”.
O que há hoje é uma simples e jovem versão de quem eles serão; e hoje eles são incríveis.
Muitos de vocês podem se ofender com tudo isso. Eu percebo totalmente. Eu sei que isso deve ser especialmente verdade se você é uma pessoa religiosa, que acha esse tópico totalmente nojento.
Conforme vocês foram lendo isso, podem ter revirado os olhos ou selecionado trechos das escrituras para enviar ou orado para que eu me arrependa ou se preparado para deixarem de ser meus amigos ou me chamado de pecador, mau, herege condenado ao inferno… Mas da forma mais gentil e compreensiva que eu possa ser, digo uma coisa: não dou a mínima.
Isto não diz respeito a você. Isto é muito maior que você.
Você não é a pessoa que eu esperei ansiosamente por nove meses. Você não é a pessoa pela qual eu chorei de alegria quando nasceu. Você não é a pessoa a quem dei banho, alimentei, balancei para dormir durante as noites. Você não é a pessoa a quem eu ensinei a andar de bicicleta e cujo joelho esfolado eu beijei ou cuja mão eu segurei enquanto levava pontos. Você não é a pessoa cuja cabeça eu amo cheirar, cujo rosto ilumina quando eu chego em casa à noite e cuja risada soa como música para minha alma.
Você não é a pessoa que diariamente me dá significado e propósito e que eu adoro mais do que jamais imaginei adorar algo. E você não é a pessoa com quem eu espero estar quando der meus últimos suspiros neste planeta, olhando para trás agradecido por uma vida de tesouros compartilhados, sabendo que eu te amei da maneira certa.
Se você é pai, eu não sei como você responderá caso seus filhos sejam gays, mas eu oro para que você considere isso.
Um dia, a despeito de suas percepções sobre seus filhos ou de como foi sua paternidade, você talvez tenha que responder para uma criança assustada e ferida, cujo sentido de paz, identidade, aceitação, na verdade seu próprio coração, serão colocados em suas mãos de uma maniera que você nunca imaginou. E você terá de responder a isso.
Se este dia chegar para mim, se meus filhos saírem do armário para mim, este é o pai que eu espero ser para eles.
* Nota do autor: A palavra “gay” usada neste post se refere a qualquer um que se identifique como LGBT. Embora em conheça e respeite as distinções e diferenças, escolhi esta palavra porque ela é a mais simples e facilmente comunicável para o contexto deste artigo. Foi a maneira mais clara de me referir aos indivíduos não heterossexuais, usando uma palavra comum que ressoaria facilmente para o leitor comum.

sábado, 13 de setembro de 2014

"Gay bom é gay no armário"

GAY BOM É GAY NO ARMÁRIO
A ética da 'santa hipocrisia'.
by Dilson Cunha
Nessa cultura judaico-cristã, nossa moral é extremamente relativa. Convenientemente relativa e seletiva. Não é de hoje que a hipocrisia é a lâmina que nos nivela. Melhor que ser um pária assumido é fingir nossas virtudes. Mas isso só vale a partir de mim mesmo. A gente odeia nossos pecados nos outros.
Esse post é um exemplo disso. Ele elege o que deve ser o que chamaríamos de "moral gay". O apóstolo dessa moral é, ninguém mais, ninguém menos que - acreditem! - Clodovil! Sim, o Clô. Estranho, porque, até onde sei, o Clô nunca se assumiu gay. Estranho, não. Justificado!
Justificado?
Sim. Justificado. Porque gay bom é no armário, senão morto. A questão é que vão para o armário não somente os gays, mas toda a sociedade. Armário é um lugar cômodo onde nosso moralismo esconde nossa "roupa suja". 
Então, Clodovil, que viveu uma vida inteira em um armário de vidro, é "o cara", porque o que vale no reino da hipocrisia são nossas confissões. Somos "católicos" não praticantes. Somos "evangélicos" não praticantes. Somos "qualquer-coisa-boa-não-praticante". Mas, e daí? "Somos". Somos o que confessamos ainda que não confessemos o que de fato somos. Nosso confessionário também foi para o armário. Aliás, ele é o próprio armário.
Armário que, etimologicamente, é o lugar onde se guardavam armas. É lá que escondemos nossas munições.
Gay bom é gay hipócrita. Na hipocrisia, todo pecado é tolerado. A hipocrisia é a garantia de que nossa moral será respeitada. A reputação mascara nossa reputaria. Re-putados estando, reputados ficamos. A homossexualidade confessada não será tolerada. Por isso Clodovil está a um passo da canonização. Pois Clodovil, apesar de todas as evidências que dispensava confissões, posava de "gay não praticante".
Os adúlteros praticantes mas não confessantes ficaram horrorizados quando Jesus os chamara de "adúlteros". "Que coisa, não?" - devem ter pensado - "Como ele ousa dizer que somos o que recusamos confessar?"
Ficaram mais horrorizados ainda quando ele resolveu tratar uma adúltera praticante com uma ternura jamais dispensada aos não confessantes. Como perdoar algo tão flagrante?
Nossa religião deveria ter como prática o bem e como confissão nossos pecados. Mas ela é justamemte o contrário. Nossa prática é o pecado, e o bem, apenas nossa confissão e credo. É no credo que nos credenciamos ao posto de "bons mocinhos". E é nosso credo que credencia a nós, os bons, ao céu e a "eles", os maus, ao inferninho. Cruz, credo!
É por isso que os gays praticantes e ativistas perturbam tanto o sossego dos santos e, como as bruxas medievais, eles catalisam tanto ódio. "Nada contra os gays. Só contra serem praticantes confessados e ativistas". Bom mesmo era o Clô que nunca foi nem uma coisa nem outra.
Àquilo que não passa de um direito básico de querer existir se torna uma "exacerbação". Gayzismo, na fala dos homofóbicos praticantes, mas jamais confessantes. Sim, "esses gayzistas querem destruir a família tradicional!" Nao, não é o celibato - tanto o praticado como o não praticado - que pode destruir a família, não! Nem a proibição do uso de preservativos. Nem o adultério nos bastidores dos púlpitos. Não! São esses gayzistas sem coração.
Minha leitura dos evangelhos mostra um Cristo completamente diferente da grande maioria dos cristãos. Qualquer generalização é um erro, por isso não são todos, mas a grande maioria. Os evangelhos me mostram um Cristo 'marginal'. Que, por muito menos que a loucura 'cristã' de nossos dias, esmerilou a moral de ocasião dos religiosos. Sim, pôs em relevo suas idiotices, incoerências, moralismos, proselitismo, sectarismos etc. Nunca pensou em ética de grupo. Nada de "Nós" contra "Eles". Nunca fez uso da força para se fazer ouvido. Nunca se impressionou com os arroubos dos santarrões. Nunca cooptou o Estado em favor da imposição de sua "filosofia". Nunca usou sua família como exemplo, até porque afirmar ter sido ele fruto de uma gravidez do Espírito Santo não seria lá grande exemplo de família.
Não, minha família não depende dos gays, como nunca dependeu dos divorciados, dos poligâmicos, dos amasiados, dos celibatários ou dos mórmons. Nunca!
Quem inventou o 'cristão não praticante' foi o cristianismo, não Cristo. Por isso se vê tantos cristãos não-cristãos e tantos não-cristãos, cristãos. Por isso, o maior cristão do século XX não foi um cristão, mas um hindu: Mahatma Ghandi. Isso dói no ouvido de um cristão confessante, mas não de um praticante. Não doeu no ouvido de Bonhoeffer nem no ouvido de Luther King, ambos praticantes do que confessavam. A Angeline Jolie julgará alguns 'confessantes piedosos'. Os Médicos Sem Fronteiras também. Talvez digam: "Senhor, quando te vimos nu, faminto, refugiado e com ebola? Quando?"
Ao perdoar escandalosamente aquela prostituta, Jesus fez mais que perdoar uma prostituta. Ele fez uma equivalência dolorosa entre puristas e pecadores. Todos se perceberam desgraçadamente 'prostitutas' e hipócritas. Ninguém atirou a primeira pedra. Mas também ninguém a tirou do bolso. Foram embora com o brio ferido, mas não sem o brio. Foram eles e não os "pecadores" que o crucificaram.
É isso que explica como é possível a a alguém receitar amor ao próximo com tanto ódio na veia. É tudo discurso. É o "amor" não praticante, só confessante. Amor virou um credo doutrinário. A ortodoxia venceu a ortopraxia.
A fé cristã foi massivamente abraçada no mundo porque foi mal compreendida. Como observou Baudelaire, geralmente concordamos com aquilo que não compreendemos. Deixe claras suas implicações e você verá a debandada que vai acontecer. O evangelho é um tapa na cara desse cristianismo que aí está. É uma afronta. Mal compreendido fez-se imcompreendido por outros que não o compreenderam pelos motivos certos. Ou seja, recusaram-no por entenderem que aquilo a que chamam de evangelho é uma aberração humana. Essa incompreensão é compreensível.
O post em questão é intelectualmente desonesto, para dizer o mínimo. Evocar o cadavérico 'Clodovil do armário' como modelo de gay tolerável é reduzir o armário a criado-mudo.
Dilson Cunha*
13/09/14


* Dilson Cunha é arquiteto, casado com a engenheira Rosângela Diniz;
 escreve textos contundentes sobre o cotidiano; participa do movimento Pacto pelo Brasil e da equipe que apresenta o programa Papo de Graça (www.vemevetv.com.br). 

sábado, 16 de agosto de 2014

Tem trabalhador que pensa que é patrão

Quem não é patrão, é trabalhador.

Mas tem trabalhador que interpreta o patrão melhor que o próprio - até descobrir-se usado...

... tarde demais tentará recuperar amigos, colegas e as vezes a família (perdidos ao longo do sucesso efêmero)...

O vídeo "Vida de Jornalista: a demissão" alerta para os riscos a que estão sujeitos TODOS os trabalhadores.

Só a Luta Muda a Vida!


quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Quebrando Paradigmas

Você lembra da reação que teve quando viu o primeiro homem com brincos?

Certamente um olhar atravessado, duvidoso... curioso: será que ele é?

Numa sociedade extremamente eivada de preconcepções aprendidas sem questionamentos de porquês, vamos reproduzindo geração após geração expressões do tipo:

Homem não chora; azul é homem, róseo é mulher; mulher dirige mal; isso é coisa de mulher, isso é coisa de homem... e muitas outras falas que vamos repassando para nossos filhos, e em nada contribuindo para uma sociedade menos preocupada com estereótipos e mais afeita a princípios, valores, caráter...

Estávamos semana passada na casa de parentes, e as mulheres realçando as unhas quando meu filho pequeno (5 anos) pegou um dos esmaltes e queria ajudar a pintar as unhas da mãe... como em qualquer outro ambiente, alguém diz:

- Isso é coisa de mulher!

E ele veio até mim, como que para confirmar aquela máxima.
- Pinte as minhas, eu disse.
E ele: Pode?
- Pode, sim, meu filho! Não tem nada.

Aquele momento não foi planejado. Foi totalmente espontâneo. Depois, no entanto, resolvi deixar e aparecer em público, para ver a reação das pessoas e discutir sobre esse tabu, quando necessário e possível. Após o espanto comum, a maioria das pessoas que me conhece “dá um desconto”, ou pergunta se “suspendi o remédio”... ou seja, reagem com bom humor e naturalidade.

Hoje, num desses encontros casuais, um amigo fez uma cara de espanto, arregalou os olhos e subiu as sobrancelhas:
- Huuuuuummmmm!!!!!

Começamos um diálogo sobre a “situação”, até que eu disse:
- Essa reação e preconceito pode até ser comum para alguém que nunca me viu. Mas, nos conhecemos há 6 anos. Nossa convivência certamente dá para que um e outro tenhamos alguma noção acerca do que o outro representa, o que pensa e o que é. Se seu conceito a meu respeito depende da cor de minhas unhas, ambos desperdiçamos alguns anos de tempo em amizade fútil.


Não faria de propósito, mas estou gostando do pretexto para provocar desequilíbrios cognitivos. É minha contribuição para um mundo menos intolerante.

Parafraseando o poeta:
"Sou uma gota d'água; sou um grão de areia..."

Talvez eu seja como o primeiro homem que um dia vimos usar brincos.

Espero que no futuro, a cor das unhas importe menos que o caráter da pessoa.

Um abraço,

Joserrí de Oliveira Lucena
Fui fotografado pelo jornalista Marcos Bezerra

terça-feira, 8 de abril de 2014

O pastor playboy, na revista Playboy.

Antes fosse boato; mas não é.

Depois de uma diva-gospel na capa, agora temos o playboy pastor-gospel, na seção de entrevistados ilustres.

Ele causou alvoroço na Comissão de Direitos Humanos (cumpriu o mandato todinho, apesar dos protestos no mundo inteiro); isso mesmo, Feliciano rendeu-se aos encantos da revista Playboy!

Não é heresia, não; é sacanagem da braba!

Reproduzo texto de Dilson Cunha, abaixo, que muito bem retrata a situação.

Joserrí de Oliveira Lucena



O Playboy na Playboy

Que lindo, "Feliciano se abre na Playboy"...
No "bom sentido", lógico!
Ele não pousou na revista. Não!
A revista é que pousou na sua cabecinha. Ah, Lutero!
Ele só deu uma entrevista na edição desse mês.
Não foi a Playboy que o seduziu. Não!
Foi o poder!
O poder é muito mais promíscuo que a Playboy.
Só que sua sedução é sutil, poderosamente sutil e religiosamente aceita...
Os irmãozinhos de fé do Feliciano poderão comprar a revistinha?
Sim, só pra ler a entrevista do pastor-playboy, nada além disso.
O resto do conteúdo da revista... só na entre-vistas.
Eu fico imaginando os comentários no saguão da igreja:
_Boa sua entrevista, pastor... muito boa mesmo! Meu filho adolescente adorou! _Amém, irmão!...
_Ele leu e releu!
Fiquei curioso: será que ele daria entrevista à "G Magazine" também?
Ou será que ele acha uma indecência dar entrevista a uma revista de homens pelados?
Mulher pelada, sim; homem pelado é coisa de gay!
O pecado é homo, nunca hétero...
Quem sonha ser presidente utilizando-se da religião para isso, faz qualquer coisa, vende até alma que pensava ter...
Em nome da política, Playboy vira Fairplay.
Milagres da "fé"...
O Feliciano, que sempre foi mais "boy" do que "play", tirou o coelho da cartola!
Os do Coelho são mais prudentes que os do Cordeiro...
O playboy vende a Playboy
A Playboy vende o playboy
Uma mão lava a outra.
Antiquado Edir Macedo que um dia causou alvoraço ao dizer que "para Deus vale gol de mão"...
Por fim, o filhinho adolescente do "irmão" depois também lava a mão.
Aliás, nessa história erótico-cristã-gospel, em que todo mundo dá uma mãozinha para Deus, só mesmo o adelescente tem as mãos... digo, a mão limpa.
Dilson Cunha
08/04/14

domingo, 30 de março de 2014

Ave Anuradha! Bendita és tu entre as estupradas...

Os textos de Dilson Cunha são tão bons, que nesses dias crio, nesse blog, um mecanismo prá reproduzir automaticamente todos...

... super atualizado e contundente o texto abaixo. Daqueles que vale a pena ler e replicar...

Joserrí




Ave Anuradha! Bendita és tu entre as estupradas...
Por Dilson Cunha

A pesquisa divulgada na quinta-feira passada pelo Ipea, dando conta da tolerância social à violência contra a mulher, onde 58,5% dos entrevistados concordam que o estupro decorre do mau comportamento da mulher e 65,1% concordam que mulheres que usam roupas provocantes merecem ser estupradas, é reveladora. Trágica e vergonhosamente reveladora.
Estupro seria, assim, uma legítima defesa masculina às provocações dos seus instintos sexuais primevos e incontroláveis.
O que espanta e agrava a coisa é saber que dos 3.810, 65,2% entrevistados são mulheres.
A violência e o autoritarismo de nossa sociedade patriarcal de matriz cristão-escravocrata estão tão entranhados na nossa mentalidade social que nem nos damos conta. Nessa cultura, ainda que não confessemos, vadia é a mulher. A política, a cultura, a religião e a média moral social ponderada não me deixa mentir.
É muito peso para a mulher ter que arcar com o peso de domesticar a bestialidade masculina. Já chega tantos outros que ela carrega pelo simples fato de ser a maldita entre os gêneros.
Historicamente, nossa relação com as mulheres sempre foi horrorosa. Sempre foi opressora e ambígua. Sempre foi uma relação covarde de poder. Faz parte do establishment masculino a negação da mulher, inclusive de sua sexualidade. Já é mais que sabido que em quaisquer convulsões sociais, a mulher sofre mais que o homem.
O poder masculino é tanto que se criou no mês de março o "dia da mulher". Há qualquer coisa nisso, menos sutileza.
Homem que é homem demonstra ser homem pela expressão de sua sexualidade. Mulher, não. Sexualidade só "suja" a figura feminina, desde Eva, pelo menos no imaginário popular.
Na divisão dos papéis, homem é o predador insaciável e justificadamente cínico. Mulher é naturalmente materna e grave. Só as putas tem licença para pecar, mas, ainda assim, é bom apedrejá-las vez ou outra para deixar claro quem é que manda.
Chocou aos fariseus e hipócritas religiosos a equivalência que Jesus fez deles à prostituta que, em nome dos "bons costumes", queriam apedrejar. Os prostitutos ficaram "putos"!
Por falar em putos, a expressão "filho da puta" é mais um indicador do abuso fálico de poder. Ofende-se alguém chamá-lo disso porque é mais feio ser filho de uma vadia, a quem não se dá o direito de anonimato, por isso é mãe, do que de um pai bastardo que não se assume enquanto pai. Ou você já viu se ofender alguém com um "filho do puto"?

Anuradha
Do outro lado do mundo, no Nepal, vive Anuradha, uma mulher de aparência frágil mas de extremadas força e coragem. Anuradha é a fundadora da Maiti Nepal, uma organização que resgata e acolhe mulheres, geralmente meninas, que são raptadas e submetidas à escravidão sexual.
Lá, como aqui, as meninas - mesmo que "muito bem vestidas" - são as responsáveis pela violência que sofrem. Menos para Anuradha. Boa parte das meninas violentadas são rejeitadas pela família depois de resgatadas, tornando-se párias.
O belíssimo, corajoso e terno trabalho de Anuradha é prevenir, resgatar e denunciar ao mundo o drama das meninas nepalesas. Defender a mulher, nesse universo "naturalmente" masculino, é tarefa de mulher. Anuradha é uma santa. Daquelas que só nos daremos conta quando virar tema de filme Hollywoodiano. Uma pena! Ela é daquelas mulheres franzinas que derruba muito macho covarde e frouxo.
Em tempos de pesquisa do Ipea, de encoxadores em metrôs, de Pussy Riots e do Femen, do reforço dos discursos machistas, Anuradha é uma bendita entre as mulheres, especialmente as estupradas.
Quinta-feira, dia 27 de março de 2014, menos de três semanas depois dos nossos afagos às fêmeas com o infame Dia Internacional da Mulher, deu uma vergonha danada ser macho. Ah, sim, eu sei o espanto e as críticas que tal afirmação suscita numa sociedade em que nunca se deve ter vergonha de ser macho. Há, naturalmente, vergonhas em se ser fêmea, nunca em se ser macho. Mas eu acredito piamente que para sermos homens carecemos que tenhamos vergonha das inúmeras expressões que nos designam "machos".
Dia 27 de março - pelo menos nesse país chamado Brasil, que vem de braseiro, onde homens abrasados estupram ou justificam o estupro como uma modalidade de auto preservação - deveria ser instituído o Dia da Vergonha do Homem.
Tínhamos - nós, os homens - que sermos machos pelo menos para isso. Pois, de resto, temos sido só pênis e pose.

Dilson Cunha
30/03/14

quarta-feira, 26 de março de 2014

...POR MEMÓRIA, VERDADE E JUSTIÇA!




segunda-feira, 24 de março de 2014

Liberdade de Expressão? (texto de Dilson Cunha)

"Liberdade de expressão? 

Quem apóia a ditadura deveria ter espaço na democracia?
Não seria como um ateu ter espaço na celebração de uma missa?

A isso seria correto chamarmos de liberdade de expressão?

Ver, como vimos, o insano deputado Bolsonaro defendendo a tortura a plenos pulmões em praça pública, é liberdade de expressão? Isso não configuraria, antes, quebra de decoro parlamentar de um parlamentar democraticamente eleito?
A liberdade de expressão pode ser contra a liberdade?

Assim como quem apóia a democracia não tem espaço numa ditadura - senão não é uma ditadura - quem apóia a ditadura deveria não ter espaço na democracia. Usufruir da democracia contra a democracia é, no mínimo, falsidade intelectual. Clamar democraticamente por uma ditadura é o cúmulo do contrasenso. É a estupidez em estado bruto.

Já não basta a questionável anistia dada aos criminosos do regime golpista civil-militar?

Liberdade de expressão coaduna com liberdade de repressão?

A mistura de Bolsonaro com os precedentes discursos do Feliciano, somados a setores ultra-conservadores católicos e evangélicos é qualquer coisa, menos democrática.

Os "vermelhos" - não tão vermelhos assim, salvo pela ignorância filosófica dos seus detratores - como a eles se referem os insatisfeitos, estão no poder há doze anos. Eles nao têm minha simpatia por motivos mais pragmáticos e acho mesmo que para o bem da democracia e de sua saúde política, está na hora de novos ares, novas gerações políticas, mas com os parâmetros da liberdade democrática. Com a coragem dessa aposta e todas as suas implicações.

À falta de alternativas, não cabem golpismos e discursos conspiratórios. Nao há alternativas à democracia. Senão a covardia. Como é covardia a tortura defendida por Bolsonaro e, surpreendentemente (seria surpreendente mesmo?) por setores religiosos.

Então, fica a questão: quem apóia a ditadura deveria ter espaço na democracia? Quem é contra a liberdade deveria gozar dela?

Democracia, na acepção do termo, pressupõe limites e parâmetros. Os pressupostos dos intolerantes não são democráticos. Portanto, é uma incongruência que gente da estirpe de um Bolsonaro permaneça deputado. Se os parâmetros fossem mais rígidos, sua cassação seria peremptória.
Mas a democracia, por princípio, é mais leniente, por isso ela não é tão tolerada pelos intolerantes, ainda que eles mesmos se beneficiem da tolerância.

A saída para uma democracia em xeque é o aprofundamento mesmo da democracia (se bem que geralmente quem põe em xeque a democracia são expoentes não democráticos). Isso se faz com educação, cidadania, informação, promoção de paz social, cultura da liberdade etc.

A falta disso faz com que grande parte dos que defedem bandeiras antidemocráticas não têm noção da própria idiotice."

Dilson Cunha
24/03/14

sábado, 15 de março de 2014

"Se a boa escola é a que reprova, o bom hospital é o que mata." Hamilton Werneck

Durante o curso do Magistério, em 1989, li um livro interessantísimo do professor Hamilton Werneck: 
"SE A BOA ESCOLA É A QUE REPROVA, O BOM HOSPITAL É QUE MATA!"

Não podemos generalizar que todos os docentes pensam do mesmo modo, mas há aqueles que se envaidecem de reprovar, como forma de serem reconhecidos como durões ou até apenas para serem notados, valorizando sua cadeira como maior que as outras... uma pena.

O diálogo aluno-professor é fundamental para a TROCA que é a aprendizagem, pois, como dizia Paulo Freire, "Ninguém ensina ninguém; ninguém aprende sozinho; as pessoas aprendem juntas".

Pois bem, nessa TROCA, o professor (prefiro facilitador) tem um importante papel, e sua "avaliação" pode ser feita inclusive a partir do reflexo das NOTAS dos alunos - que é, em resumo, uma forma tosca de medir o quanto foi exitoso/frustrante atrair a atenção dos alunos para "se apaixonarem" pelo tema...

Há os professores que se orgulham, sim, de maltratar os alunos com o poder da tinta vermelha, e, quando possível, reprová-los por motivos extra-aula... para tais, sugiro lerem a obra supra, da qual reproduzo um resumo abaixo (o trabalho é da internauta Mayara Lopes, e já foi replicado por outras pessoas). 

Entre outras coisas, o autor assevera: "A reprovação é sempre mais um problema de “ensinagem” do que de aprendizagem."

O problema é que, diferente de um paciente, que pode optar não ser tratado por um médico que é famoso por matar seus pacientes, a maioria dos alunos não pode escolher seus professores...

Joserrí de Oliveira Lucena

"Se a boa escola é a que reprova, o bom hospital é o que mata."
Resumo feito por Mayara Lopes
"Triste não é mudar de idéia.
Triste é não ter idéia para mudar".
Francis Bacon

manicômio

APRESENTAÇÃO
A obra possui dezesseis capítulos, com tendência multidisciplinar, constatando que sem auto-estima, há maior dificuldade de se assimilar conceitos, ainda mais conceitos novos que o sistema educacional vem propondo.


CAPÍTULO I: “A FALÁCIA DA CURVA DE GAUSS”
Inicia avaliando o uso da curva de Gauss como sitematizadora da situação dos alunos na qual os bem dotados estão acima, e, os menos dotados abaixo. O que embasa que em avaliações normais há reprovação para os abaixo da curva.
Tal processo avaliativo dito normal não averigua fatores como a criatividade do sujeito, o tempo gasto, e o ser humano envolvido na situação.
A postura científica da curva de Gauss não deve se aplicar a educação, pois tende a coisificá-la e a justificar o conceito de “reprovar com justiça”.
A pessoa humana martela a curva com suas diversas virtudes, diversos tipos de inteligência.


CAPÍTULO II: “AMASSANDO A CURVA”
Sugere que a competição começa com o professor no objetivo e classificar o aluno ao invés de tentar levar a todos a atingir o conhecimento. Mostrando a problemática de pouco tempo para a grande carga de conteúdo.
Expõe que a educação vem sendo enterrada pela normatização e uniformização com padrões rígidos quanto à temporalidade da formação.
Faz uma analogia com o tempo de aprendizado e tempo de cura, mostrando que ambos os casos contam com diferenças individuais e que tanto a convalescença quanto o aprendizado não obedecem a padrões de tempo pré-estipulados.
O importante é chegar ao destino e não o tempo que se gasta para tal. O importante é tentar várias vias, várias formas de aprender, mas sempre tentar.
Cita o sistema do escotismo, criado por Baden Pawel em que o grupo fica livre, mas que em determinada hora o estabelecido deveria estar pronto para a inspeção do campo e formatura para a bandeira. Considera que estabelecer competição é dizer que independente do esforço, grupos de menor experiência não tem premiação, ou mesmo, não tem tanto valor quanto os bons. Esse tipo de padrão competitivo é uma fábrica de desanimados.
Quem ensina deve centrar no aprendizado da maior parte do grupo possível.


CAPÍTULO III: “O CURRÍCULO MATA”
A vivência profissional não envolve somente o currículo escolar, mas a experiência de vida. Segundo o dito latino: “Non scholae sed vitae discimus”, não aprendemos para a escola, mas para a vida.
O grande problema da escola é que se decora para testes, aprendem-se macetes, dribla-se a avaliação. Preparar-se para a vida fica em plano secundário ou mesmo esquecido.
Nas palavras do autor: “... estudou coisas enormes, quantidades que não cabiam em cadernos e quantos livros você foi obrigado a comprar e nunca usou...”
A maioria dos assuntos pesquisados não tem oportunidade de ser usado na vida, e quanto tempo é perdido enquanto poderia estar se estudando o que se gosta.
Os pilares da escola são: currículo, programa e nota; Em detrimento ao saber e ao deleite humano.
Chega-se a necessitar de um bisturi pedagógico que corte fundo. O currículo tem que abranger leitura, visitas, relatórios, observações e movimento.
É importante o cuidado de perceber a necessidade de disciplinas novas, lecionando coisas diferentes.
Transcrevendo literalmente: “Cada disciplina é ministrada para atender à corporação dos docentes, enquanto a sociedade é muito maior que a corporação de docentes”.
A educação tem que servir à sociedade.


CAPÍTULO IV: “A QUANTIDADE SATURA”
Ministrar muito conteúdo leva ao desanimo e a completa entrega diante das dificuldades, pois as mesmas parecem impossíveis de serem superadas.
O estudo que deve ser um processo de renovação pessoal passa a ser uma tortura da inteligência. Observa-se o aluno a aprender o que gosta e o que não gosta, o que é necessário e o absolutamente desnecessário, o atualizado e o desatualizado.
A função de enxugar o conteúdo é do professor. Mas, o professor também está marcado pela saturação das quantidades, ele foi formado em um sistema onde o mestre é o agente de uma sociedade a favor de uma elitização.
Perpetua-se os erros, porque assim que foram ensinados e nunca se ensinou a respeito do questionamento que é feito.
O limite humano é dado pelo tamanho das idéias.


CAPÍTULO V: “O QUE É QUALIDADE?”
Segundo o autor qualidade é a linguagem da moda que incorpora conceitos e depois critica-os. Alguns ainda usam o termo reciclagem profissional como que a aproveitar o lixo intelectual.
O grande problema da quantidade é a insuficiência das ferramentas disponíveis. Não adianta conceituação e sistematização sem a presença do elemento humano.
Um grande acontecimento educacional é quando dois seres se encontram e suas idéias se chocam, tais seres se tornam diferentes e é imprevisível o que poderá suceder a cada um. A excelência humana é mais completa que a excelência acadêmica. E, a verdadeira qualidade em educação depende é da qualidade humana. Se eficiência é fazer bem feito, eficácia é fazer o que deve ser feito. Só eficiência não basta, é preciso ter eficácia, fazer o que deve ser feito.


CAPÍTULO VI: “A UTILIDADE ANIMA”
Quando alguém percebe que faz coisas úteis, melhora sua auto-estima e a alegria anima todo o seu organismo.
O amargor não cura, a vida tem seus dissabores, mas aumentar os que já existem é um contra-senso.
Deve-se tirar o que não é útil do programa para proporcionar um conhecimento com prazer.

CAPÍTULO VII: “A ATUALIZAÇÃO MOTIVA”
Estudar conteúdos atuais é motivador porque existe uma relação imediata com a realidade da vida.
O autor denomina os professores arcaicos de “professauros” e usa a máxima: “Quem não se atualiza, fossiliza-se”.

CAPÍTULO VIII: “A REPROVAÇÃO COMPROMETE A INSTITUIÇÃO”
Diante da reprovação o aluno é colocado como grande culpado do seu fracasso.
Com a reprovação como tradição, a escola serve mais para impedir o sujeito do que para promovê-lo. Tal fato deixa a libertação proposta por diversos sistemas de educação restrita ao papel, pois não efetiva mudanças no curriculum ou no programa.
Mediante a visão da escola, não importa o tipo de cidadão que é capaz de formar, mas a capacidade que tem de promover um estudante, mesmo que ele passe por cima dos demais, de acordo com uma competitividade selvagem aprendida entre muros, entre os muros da escola.
Segundo a obra: “A reprovação está dentro de um contexto, não se trata de um fato isolado. São culpa da escola, do aluno, da família e do sistema.”
O grande problema da maioria dos professores é que a matéria prima pode não reagir porque não tem vontade, mas os alunos são seres humanos e podem dizer que concordam ou não. Se o aluno diz não a algum conteúdo é sempre culpado por não aprender, por não querer aprender. Os demais isentam-se da culpa que é toda lançada nele.
A reprovação é sempre mais um problema de “ensinagem” do que de aprendizagem.

CAPÍTULO IX: “OS PONTOS FORTES DOS ALUNOS”
“O papel do professor é buscar os pontos fortes dos alunos.” – Santo Agostinho;
Quando o professor busca o ponto fraco do aluno, ele mesmo se sente frustado. É preciso promover mais e recriminar menos.
Os professores, de um modo geral, assinalam o erro e rabiscam bem o que está errado com canetas especiais para chamar atenção sobre o erro. Tal método perde a força de fixação acerca do acerto. Até a família foi sugestionada de tal forma, e querem que o professor marque o erro e corrija.
O professor deve apenas escrever a forma correta.
Ninguém precisa aprender sofrendo.

CAPÍTULO X: “A ESCOLA DO FUTURO”
Terá que lidar com a questão do virtual e uma possível redução das manifestações humanas. Com o mundo virtual também será mais fácil aprender.
Deve-se humanizar o novo contexto para não haver perda da que existe de precioso na humanidade: a capacidade de distinção entre o ser e o não ser.
O autor relata que a escola do futuro vai requerer dos educadores uma transformação na linha da humanização. As inteligências múltiplas deverão ser desenvolvidas para embasar as pessoas para lidarem com situações imprevisíveis.

CAPÍTULO XI: “MUDANDO PARADIGMAS”
Os paradigmas dão segurança em relação ao passado e criam o medo em relação ao novo.
É a ótica do negativo que justifica o título da obra. O fato de considerarem a reprovação como meta, de não cultivar o prazer de estar na escola.
Existem muitos paradigmas em relação à educação, que se instalaram e não auxiliam o aprendizado.
Alguns deles são: seriação, nota, bimestre letivo, dependência, recuperação, dentre outros.
Há professores que se realizam nesse conceito para pagar, sem perceber, tributos aos paradigmas do passado.
Nas palavras do autor: “O que serve fica de lado, o que não serve e ajuda nas reprovações, retenções e dependências são usadas à larga porque muitos ainda pensam que a boa escola é a que reprova, como se o bom hospital fosse aquele que matasse”.
A escola não pode mais depender dos medrosos que fogem da ousadia de viver.

CAPÍTULO XII: “SOMBREAMENTO”
Algumas instituições classificam os acadêmicos de acordo com o nível do que deixou de aprende, o que é entendido como sobreamento.
Não basta ser humano, o código lingüístico tem que acompanhar, pois como se pensa influi em como se fala e o modo de falar é a expressão da própria vida.

CAPÍTULO XIII: “ABATIMENTO”
Um professor não pode se mostrar abatido, pois, abatimento é um sintoma grave que acaba sendo transferido para o aluno, que por sua vez, transfere para o conteúdo ministrado.
Assim, os alunos passam a achar sem saber as razões, que a escola é insuportável, chata, um lugar a ser evitado.
Uma postura de desânimo expulsa os alunos da escola, pois os mesmos se entediam com a lamúria.

CAPÍTULO XIV: “PROSTRAÇÃO”
“Abracei o vento como último momento na praia e fui dormir tendo o nada como companhia”.
Cada profissão tem seu padrão de realização, assim como o circense se nutre com a platéia. O professor não pode e não deve nutrir-se no nada, deve nutrir-se do prazer de ver o que ensinou; De perceber que preparou os seres humanos para o imprevisível do amanhã, ensinando pessoas a entender as demais em busca de soluções.

CAPÍTULO XV: “ÂNIMO E PERSISTÊNCIA”
“Temos primeiro que compreender que não há vida sem risco – e que quando nossa alma é forte, tudo mais é secundário, até os riscos”. – Elie Wiesel (sobrevivente do Holocausto).
O autor defende a necessidade da existência e adoção de valores, ressaltando que é fundamental focar em um objetivo. Pois, sem valores não se chega à parte alguma, ou ainda aonde o vento levar se houver vento.
Uma solução diante da divergência de opiniões é a democracia por possibilitar a vida de forma mais harmônica em meio ao pluralismo. Viver o plural não precisa ser uma guerra de oponentes, mas uma resultante de sensatez.
O capitalismo termina com a sentença: “A escola precisa ser pensada na linha da informação, da criatividade, da intuição e do sonho”.

CAPÍTULO XVI: “EDUCAÇÃO GERADA NA ESPERANÇA”
A esperança dá a certeza, a certeza de que os problemas podem ser superados mediante a uma postura de metas claras.
Uma saída para os problemas educacionais está em estabelecer metas claras e saber os valores nos quais embasar-se e escolher os valores adotados que guiarão as ações.
A alegria deve aliar-se a felicidade que é capaz de promover a realização.
Segundo Einstein, se o sujeito faz parte do universo, quando o mesmo cresce, o universo todo cresce com ele.


REFERÊNCIA:
WERNECK, Hamilton. "Se a boa escola é a que reprova, o bom hospital é o que mata". 8 edição. Rio de Janeiro: DPeA, 2002.

Fonte: 


sexta-feira, 7 de março de 2014

quinta-feira, 6 de março de 2014

Para Alex, com carinho. By Jean Wyllys

O texto abaixo foi escrito por Jean Wyllys. Merece ser lido cada palavra; relata seu sentimento quanto à morte do pequeno Alex, espancado por seu pai para que "tomasse jeito de homem"... a matéria oficial está em O Globo.

Alex beija a barriga da mãe

Joserrí


Para Alex, com carinho - por Jean Wyllys

"Quem me acompanha por aqui sabe que não tenho, por hábito, tratar de minha vida privada nem de minha intimidade. Concentro-me em debater idéias e fatos, sobretudo os ligados ao meu trabalho ou ao meu consumo cultural. Mas hoje vou abrir uma exceção...

Talvez seja a proximidade do aniversário de 40 anos, talvez seja o acúmulo de sentimentos não processados devido ao trabalho árduo dos últimos três anos, mas a verdade é que ando à flor da pele...

Hoje tive uma crise de choro ao ouvir, vinda da lanchonete da esquina, a música "No dia em que eu saí de casa". A letra descreve quase que em detalhes um episódio de minha vida (e, por isso mesmo, as lembranças de minha mãe foram tão inevitáveis quanto as lágrimas):

"No dia em que saí de casa, minha mãe me disse 'filho, vem cá'; passou a mão em meus cabelos; olhou em meus olhos e começou falar: 'por onde você for, eu sigo com meu pensamento sempre, onde estiver; em minhas orações, eu vou pedir a Deus que ilumine os passos seus'.

Eu sei que ela nunca compreendeu os meus motivos de sair de lá, mas ela sabe que, depois que cresce, o filho vira passarinho e quer voar. Eu bem queria continuar ali, mas o destino quis me contrariar... E o olhar de minha mãe na porta, eu deixei chorando a me abençoar!

A minha mãe, naquele dia, me falou do mundo como ele é; parece que ela conhecia cada pedra que eu iria por o pé. E sempre ao lado do meu pai, da pequena cidade, ela jamais saiu... Ela me disse assim: 'meu filho, vá com Deus que este mundo inteiro é seu!".

Depois de ouvir essa música, ainda sentado ao computador para concluir uns textos, li a matéria de O Globo com a história completa do garotinho Alex, morto a pancadas pelo próprio pai para que "tomasse jeito de homem". Alex, natural de Mossoró, RN, fora enviado, pela mãe, ao Rio de Janeiro para viver com o pai, desempregado e envolvido com o tráfico de drogas, porque ela, mãe de outros três filhos (também criados por terceiros), poderia perder a guarda de Alex por não enviá-lo à escola, já que não tinha meios para tal.

Olhei a foto do enterro de Alex e meu coração se apertou ao perceber que não havia quase ninguém lá... Sozinha, aquela semente indefesa esmagada violentamente por sua natural exuberância, não tinha ninguém por ela na despedida dessa vida que lhe foi tão injusta.

Meu coração se partiu e não pude controlar os soluços de choro. Por um instante, vi-me naquele caixão, sem futuro...

Semelhante a Alex, quando criança, eu também não tinha "jeito de homem"; gosta de brincar com as meninas, de roda; de desenhar no chão com palitos de fósforo riscados e pegava, escondido, as bonecas de plástico baratas de minhas primas; semelhante a Alex, eu gostava de cantar e dançar e essa minha diferença me tornava alvo de injúrias e insultos desde que me entendo por gente. Cresci sob apelidos grosseiros e arremedos feitos pelos de fora. Naquela miséria em que eu vivia na infância, trabalhando desde os dez anos de idade nas ruas, o meu "jeitinho" me fazia vulnerável... e eu sabia disso ou, ao menos, intuía; por isso, dediquei-me aos estudos e ao exercício da minha inteligência. Busquei ser um menino admirável na escola e na Igreja para que meus pais não tivessem desculpas para me bater por aquilo que eu não podia mudar em mim. Nem minha mãe amada nem meu pai que já se foi me espancaram por eu ser diferente, mas, ante os insultos e as injúrias de que eu era vítima, ambos me pressionavam com olhares e cobranças e meu pai, em particular, com um distanciamento.

Minha estratégia de sobrevivência deu certo, em casa e na escola. Transformei-me num adolescente inteligente e admirado. No movimento pastoral, aprendi a me levantar contra as injustiças (inclusive contra aquelas de que eu era vítima); aprendi o que era a homossexualidade e que havia outros iguais a mim, o que me levou a passar da vergonha para o orgulho do que era. Cursei, depois de um disputado vestibular, um dos mais cobiçados colégios técnicos da Bahia. E virei orgulho de meus pais, irmãos e de todos os meus familiares e vizinhos que me insultaram. Tanto que, no dia em que saí de casa de vez, rumo a Salvador, os olhos de minha mãe amada diziam: "Meu filho, vá com Deus que esse mundo inteiro é seu". E é!

Mas eu e outros poucos que escapamos dos destinos imperfeitos ainda somos exceções. A regra é ser expulso de casa ou fugir como meio de sobreviver; é descer ao inferno da exclusão social e da falta de oportunidades; ou ter o futuro abortado pela violência doméstica, como aconteceu com o pequeno Alex...

Hoje eu quis, do fundo de meu coração, ter encontrado Alex antes de sua morte violenta e trazê-lo para preto de mim; quis voltar o tempo e livrá-lo da miséria em Mossoró e das mãos de seu algoz; de chamá-lo de "filho"; olhar em seus olhos e dizer "Por onde você for, eu te seguirei com meu pensamento pra te proteger"; quis apresentá-lo à minha mãe para que ela dissesse, a ele, "seu pai era igual a você quando criança e hoje eu tenho muito orgulho dele"...

Não deu, Alex. O destino nos contrariou: não nos quis juntos. Mas, em minhas orações, eu vou pedir a Deus, se é que ele existe mesmo, que ilumine sua alma..."


Jean Wyllys
Deputado Federal
PSOL-RJ


Jean Wyllys e sua mãe


Horas depois, Jean acrescentou à postagem acima, um pequeno acréscimo:

Meus amigos e minhas amigas, obrigado pelas palavras e pelo carinho. Estou mesmo aos pedaços. Cada vez que penso naquele pobre garotinho vindo, de ônibus, ao encontro do pai, enviado pela mãe... Cada vez que penso nos pensamentos que podem ter passado pela sua cabecinha, as esperanças que ele carregava, a idealização do pai que não conhecia; cada vez que penso nisso, meu peito se aperta... Há um buraco de dor em minha alma. Sofro como se essa criança fosse mesmo meu filho; como se eu tivesse responsabilidade por ela... Peço desculpas aos crentes por vacilar quanto a existência de Deus, mas creio que tenho esse direito na medida em que um ser tão frágil é vítima de tanto sofrimento enquanto canalhas enriquecem em nome dEle, de Deus. O Deus em que eu creio há que dar alento ao que chamamos de alma (de Alex) e há que me ajudar a recuperar as forças para seguir. Obrigado!
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Se fizer citação, favor indicar a fonte.

Veja no rodapé como fazer download de livro sobre alimentação saudável para diabéticos DM1

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Se você conhece alguém com diagnóstico de diabetes tipo 1, repasse este link para download desse livro, que é um verdadeiro manual da alimentação.

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