domingo, 17 de novembro de 2019

A pena de vidro, o elevador panorâmico e lufadas de ar.


Parte 1:
A pena de vidro

Em maio de 2017 levei um dos maiores chutes de minha vida.
Eu me achava o melhor homem do mundo.

Não tenho metáfora adequada para explicar como me senti, mas foi como uma pena de vidro sendo jogada pela janela de um edifício de 48 andares, e com a gravidade do planeta Júpiter me chamando para o solo.

Eu não percebi em que momento o arremesso começou; me parece que fui pena arrancada ainda na trajetória da subida do prédio, lá pelo 28º andar, e levada andares acima como um bibelô.

O fato de me identificar como uma pena de vidro talvez tenha a ver com a minha formação emocional.

Ao longo da minha vida me pautei em tornar a vida das pessoas ao meu redor a melhor possível. O primeiro de uma família de 4 filhos, por causa das ocupações de meus pais, eu cuidei dos irmãos como “dono de casa” desde os 5 anos de idade. A meningite levou o caçula, antes do primeiro ano de idade dele, mas as imagens da gente brincando em casa, em boa parte os 4 sozinhos, ainda estão vívidas na minha memória. Tenho melancolia de imaginar que pessoa ele teria se tornado. Tenho saudades.

Cresci tendo a extrema responsabilidade em cuidar para evitar que eu e meus outros irmãos tivessem o mesmo destino precoce.

Como muito de vocês, não fui privilegiado com carinho dos pais, como colo, afago, elogios... e muito pelo contrário, lembro das broncas, e das surras que tomei. Uma delas, a mais injusta de todas (acusado do que não fiz), tomei banho de vinagre e sal por dias para sarar as feridas nas costas.

Apesar dos percalços, acidentes leves e graves, violência injusta com o assassinato de meu pai em 1981... conseguimos sobreviver, tanto minha mãe, eu, quanto os outros 2 irmãos (depois uma outra irmã se juntou ao time de sobreviventes, compondo a família).

Enfrentei a vida. Superei muita coisa. Constitui uma família. Dois filhos.

Venci desafios.

Vindo de uma família de poucos estudos, consegui 2 certificados de cursos profissionalizantes do ensino médio, e mais 5 diplomas de nível superior (entre graduações e pós-graduações).

Estava no auge de minha realização pessoal. Mas era um bibelô, e não tinha consciência.

Desorientado, surpreso e assustado no início da queda livre, olhei para baixo e vi o chão de concreto me esperando; olhei de volta ao prédio, vi um elevador panorâmico. Aquele rápido momento durou 100 dias.

Cair como uma pena de vidro em direção ao solo, sem ter em que me agarrar, me afetou de uma maneira brutal. Foi como se nada do que conquistei valesse a pena. A metáfora por pouco não se tornou uma realidade em Newton Navarro.

(continua)



quarta-feira, 24 de julho de 2019

A melhor Polícia do Planeta (adaptada)

Uma discussão sem fim tem se travado para saber quem vazou a Vaza Jato... e esse é um desafio para saber qual o órgão de inteligência mais eficiente do mundo: o dos Estados Unidos, o da Rússia ou o do Brasil.
Então, numa intensa caça aos “hackers” FBI, KGB e PF se esforçam para saber quem é mais eficiente, e propõem uma competição com o seguinte desafio:

Os organizadores soltariam um coelho na cidade de Araraquara e a polícia que achasse o bicho mais rapidamente ganhava.

O FBI foi o primeiro. Usando fotos de satélite, análise de DNA dos pelos encontrados, helicópteros, o escambau... o coelho foi encontrado em 3 horas e 17 minutos.

Depois foi a vez da KGB. Usando analistas de comportamento, psicólogos, estudiosos da espécie dos coelhos e cenouras com sonífero e trapos com feromônio de coelha, eles capturaram o bichano em 1 hora e 17 minutos.
O pessoal do FBI ficou arrasado.

Por fim, chega a vez da nossa PF. Sem necessidade de nenhuma tecnologia, a bordo de uma viatura ano 2013, porta-malas amarrado por uma corda (o fecho da tampa caiu em abril de 2016), 5 homens, 2 deles com o corpo pra fora do carro batendo nas portas em alta velocidade, adentram a cidade com a sirene ligada, e mandando todo mundo se recolher.

Voltam em 17 minutos, deixando todo mundo impressionado.
Abrem o porta-malas do Sandero sucateado (desamarrando a corda) e lá dentro estava um gambá, todo encolhido, cheio de hematomas, gritando:

– Eu sou um coelho! Eu sou um coelho! Eu juro que sou um coelho!



(Qualquer semelhança pode não ser coincidência).

segunda-feira, 11 de março de 2019

Nuca mais escrevi algo...

Nunca mais escrevi algo.

Quando as coisas vão bem, é assim; a gente se afasta de si mesmo.

Esse ensoberbecer-se de si mesmo é importante, mas nos faz cegar para coisas óbvias.

Tem dias que acho que se eu fosse cego, enxergaria melhor.
A gente se confia porque vê. Coitado.

Pra mim isso contraria o ditado popular; nele, "o que os olhos não vêem o coração não sente".
Na minha percepção, o coração é que não deixa os olhos verem.
Então, o que o coração não sente, os olhos não vêem, por mais deslumbrante que seja.

E assim, segue a vida.

Pretendo escrever mais. É uma questão de respeito a mim mesmo.

Me encontrarei mais vezes por aqui.

Um abraço prá mim.

Joserrí
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