Excelente artigo, de Stephen Kanitz, como reflexão aos que acham que pensar o problema e buscar soluções é gastar energia em coisas negativas.
Joserrí de Oliveira Lucena
Stephen Kanitz
Quando a gente encontra um problema que ninguém ainda havia percebido na empresa, no governo, ou na sociedade, a nossa primeira reação é ficar quieto.
Embora o problema fique cada vez mais óbvio para você à medida que os dias passam, normalmente ficamos mudos.
Espantados com “Como é que ninguém viu isto antes?”, mas normalmente mudos.
Só iremos escrever um “paper” sobre o assunto, um artigo numa revista, ou dar uma entrevista a um jornalista quando acharmos uma solução para o problema que identificamos.
Isto porque na maioria das culturas não profissionais, ninguém aceita a apresentação de um problema sem a solução.
A Presidente Dilma lhe passará uma descompostura se você apresentar um problema sem uma saída.
“E qual a solução? “
Eu, com a sabedoria da idade, sei que apresentar uma solução a um problema que você identificou é o maior erro que se pode fazer em países como o Brasil.
Talvez no mundo, porque de fato valorizamos muito mais os que acham uma solução do que os que acham o problema.
Valorizamos quem dá as respostas e não quem faz as perguntas inteligentes.
Refiro-me a países não profissionais, países que não entendem a importância da identificação do problema, países que acham que a solução é a parte mais importante da análise.
Talvez este tenha sido inclusive o maior erro que já cometi na minha vida, e a razão pela qual muitas das minhas análises não tenham tido mais repercussão, para o meu desespero.
Hoje, sou mais sábio.
Nunca mais forneço a solução no mesmo artigo, entrevista ou “paper” nos quais apresento ou identifico o problema.
Vou por partes.
Primeiro, gasto o tempo necessário mostrando que temos um problema ou que o verdadeiro problema “é este”. A solução, se pedirem, vem depois.
Todas as soluções de problemas errados são, por definição, erradas e só trarão problemas maiores.
Pior, a solução que você propõe poderá estar errada, mas a identificação do problema correta.
Aí, você corre o risco de colocar tudo a perder. Ninguém vai concordar contigo devido a sua solução, e a sua correta identificação do problema ficará perdida para sempre.
Antigamente eu identificava o problema, apontava uma solução, detalhava a implantação da solução, e até contratava quem melhor servia para o caso.
Quando tinha 38 anos, descobri que o problema da Dívida Externa Brasileira era o Nominalismo Econômico, que fazia com que pagássemos a dívida externa antecipadamente, e não na época certa.
Fui trabalhar no Governo Sarney, onde contatei meus colegas de Harvard, muitos em Fundos de Pensão, e criamos o que é hoje o TIPS americano.
Procurei a Standard & Poors para inciar um rating para o Brasil, contratei a Towers Perrin para identificar os 14.000 fundos de pensão que adorariam ter dívidas certas, mereci até um editorial da Revista Euromoney e uma matéria no Wall Street Journal.
Com o editorial da Euromoney me apoiando, abri uma champagne com meus amigos: “Consegui”.
Que nada!
Descobri que a maioria dos envolvidos do lado de cá, ainda nem sabia do problema.
Achavam que o problema eram os Bancos, a ganância, os juros e a corrupção.
Eu havia escrito 200 artigos em jornais brasileiros, mas a maioria dos que os leram, pelo jeito, haviam achado algum ponto na minha solução que discordavam, um erro de português, ou uma projeção de câmbio diferente daquela que eles possuíam.
Tudo no fundo era detalhe, até a minha solução.
A maioria dos jornalistas a quem dei entrevistas me acharam provavelmente arrogante, um trator, um sonhador maluco, porque estava apresentando uma solução completa, e eles não formados em nada além de jornalismo, ficavam na etapa número 1 e eu estava galopando para a etapa número 10.
Um erro monumental.
Quando voltei do fundo de Pensão da IBM, com 1 bilhão de contrato novo na mão, ouvi do Presidente do BC, Fernão Bracher:
“Agora entendi, você só vai pagar o juro real a cada 6 meses, e a correção do principal só será paga no vencimento da dívida daqui 5 anos!”
Até aquele momento ele achava que pagaríamos o juro real mais a inflação a cada 6 meses, que é justamente o erro nominalista que acarretou nossa crise da dívida.
Perdi dois anos de conversas com alguém na minha frente que não estava entendendo nada, e não queria se incomodar.
O erro foi meu, não do Bracher e todos os responsáveis pelas finanças deste país. Não expliquei corretamente o problema, deveria ter ficado somente nisto, mas esta não é a nossa cultura.
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