O exemplo de vida fala mais alto que qualquer texto, por mais bem elaborado que seja.
Talvez você seja daquelas mães ou pais que sempre se culparam por não ter criado seus filhos como pedagogos, pediatras e toda a literatura sempre ensinaram, inclusive através de programas de TV, ao estilo Super Nany.
Pois eis que ganha corpo e visibilidade uma corrente que contraria o "pacote" que tentam nos impor a décadas.
Não deixe de ler a matéria abaixo e sintam-se aliviados.
Nós somos normais.
Joserrí e Joana Darc
Atriz de ‘Big Bang Theory’ lança livro sobre modo controverso de criar os filhos
Publicado na Veja
Porta voz do movimento ‘Attachment Parenting’, Mayim Bialik, que faz o papel de Amy Farrah Fowler, lança livro no qual fala sobre amamentação, uso do sling e a importância de dormir com os filhos
A atriz americana Mayim Bialik, 36 anos, que interpreta a neurobióloga Amy Farrah Fowler, namorada de Sheldon, no seriado The Big Bang Theory, também é nerd na vida real. PhD em neurociência pela Universidade da Califórnia, Mayim, mãe de dois filhos (um de 6 anos e outro de 3 anos), se tornou porta-voz do controverso movimento Criança com Apego (Attachment Parenting, no termo original em inglês), criado há 20 anos pelo pediatra William Sears (leia boxe abaixo). O método de criação dos filhos se baseia em três pilares fundamentais: amamentação prolongada, dormir junto com as crianças e carregá-los sempre o mais próximo possível do corpo (de preferência, com o uso de slings, uma espécie de bolsa que deixa o bebê colado ao peito da mãe).
Em entrevista ao site de VEJA, Mayim fala de seu mais recente livro Beyond the Sling – A real life guide to raising confident, loving children the attachment pareting way (Além do Sling – Um guia da vida real para criar crianças confiantes e amáveis à maneira do Attachment Parenting, sem edição no Brasil).
Como a senhora descobriu o Attachment Parenting? A primeira vez que ouvi sobre isso estava na faculdade. Eu tinha amigos que já eram pais e que criavam os filhos dessa maneira. Acabei aprendendo ao observar a maneira como eles se relacionavam com os filhos. Minha primeira impressão foi de que aquilo era uma loucura. Parecia que a vida deles era inteiramente focada nos filhos, isso não fazia o menor sentido para mim. Mas por causa da faculdade acabei começando a estudar o desenvolvimento infantil e psicologia, especificamente os hormônios que o corpo produz durante a gravidez e o parto. E a partir daí a Criação com Apego começou a fazer sentido.
Então, a senhora já engravidou decidida a educar seus filhos dessa maneira? Não acho que eu já havia percebido que iria adotar todos os aspectos. Mas já havia optado pelo parto normal, pela amamentação, e decidido que dormiríamos com nosso bebê e que usaríamos o sling. Não comprei carrinho de bebê, nem berço. A princípio, pensei apenas em seguir a filosofia do movimento em geral. Não imaginava que me tornaria uma voz para o movimento, eu nem estava em evidência ainda, era apenas uma estudante de faculdade. Foi nessa época, porém, que percebi o quão preocupadas as pessoas estão sobre questões como amamentação e parto natural.
Como funciona a relação entre pais e filhos dentro dessa filosofia? A Criação com Apego acredita que a criança tem uma voz e que a voz de todo mundo deve ser levada em conta quando se toma decisões. Mas há variações. Algumas famílias têm muitas regras e limites, outras têm bem menos. Mas essa noção de que as crianças decidem tudo não é verdade para quase todas as famílias que conheço. É um estilo muito flexível de educação, no qual a criança tem uma voz e uma opinião. Acredito que a principal diferença entre as demais maneiras de criação é o conceito da disciplina gentil, que se traduz na maneira como você age quando seu filho faz algo que você não quer.
Então não há castigos ou punições? Meus filhos sofrem consequências lógicas para o comportamento deles. Eu não os deixo de castigo, eles não ficam sentados em uma cadeira em um canto da casa com o rosto virado para a parede. Não há ameaças. Há, sim, uma série de outras coisas, como privá-los do que desejam em algumas situações. Há uma regra, por exemplo, de que não se joga bola dentro de casa. É claro que existem bolas em casa, mas se eles não nos ouvirem e brincarem com elas dentro de casa, eu coloco todas dentro de uma cesta em cima da geladeira por um dia. É uma maneira amável e gentil de dizer que se eles não são capazes de seguir as regras, não podem brincar de bola. Descobri que esse tipo de atitude funciona para quase tudo.
Esse método de criação não acaba deixando os pais em um papel passivo? Acho que esse é um dos grandes equívocos sobre a Criação com Apego. Existe um tipo de criação mais passiva, onde a voz da criança triunfa sobre as necessidades do adulto. Conheço famílias que funcionam dessa maneira, mas não funcionaria para nós.
É possível para pais que trabalham fora adotarem a Criação com Apego? Quando o doutor William Sears apareceu com esse conceito, ele não disse absolutamente nada sobre pais que trabalham. Coisas como amamentação, parto natural, dormir com o filho, usar sling e acreditar em uma disciplina gentil podem ser feitas mesmo por pais que trabalham das 9 às 18 horas. Você precisa ser responsável pelo seu filho, mas cada pai faz isso de uma maneira diferente. Alguns de nós fazem mudanças na vida para poderem ficar em casa – seja a mãe ou o pai. Outros, optam por mandar os filhos para a creche e escolinha ou têm babás.
E como fica a vida social dos pais? Um dos aspectos principais dessa criação é encontrar o equilíbrio. Desde que meu mais velho nasceu, não tivemos mais encontros amorosos, por assim dizer. Agora que eles já estão um pouco mais velhos, podemos revezar o cuidado com outros pais. Mas eu nunca saio à noite ou passo uma noite distante deles. Para nós, é uma questão de priorizar, essa é uma fase muito curta. A gente não sai à noite agora, mas voltaremos a fazer isso. É claro que minha vida, com esse comprometimento, não vai ser como ela era antes de eu ter filhos. Mas é isso que significa ter filhos, a vida muda totalmente.
Essa maneira de criação também funciona com adolescentes? Tem muito a ver com a infância, com os primeiros anos de vida. Mas a fundação que você estabelece vai impactar na relação que você tem com os seus filhos mais tarde. Os exemplos que tenho, de crianças que já são maiores, é da criação de uma conexão muito especial com os filhos na adolescência.
No livro você comenta que não ensina os filhos a dizer por favor, nem obrigada. Por quê? Não enfatizo isso em excesso, nem os corrijo ou os forço a dizer por favor e obrigada. Modelamos isso de uma maneira apropriada mostrando para eles as situações sociais onde isso é esperado. Quando tiverem idade para isso, eles vão entender que é isso que se faz em determinados momentos. Acredito que a noção de que você tem que ficar em cima das crianças cobrando esse tipo de coisa é exemplo de uma ansiedade sobre como os outros veem seus filhos.
Como funciona esse modelamento? Se meus filhos nunca me veem dizendo por favor e obrigada, eles também não falarão. Quando alguém dá um presente para eles, eu digo ‘obrigada, isso é muito gentil’. Eles veem isso, e é assim que aprendem como se comportar em situações similares.
Alguns críticos da Criação com Apego defendem que o método gera ansiedade nos pais. A senhora concorda? As pessoas acham que é preciso ser perfeito e que existe um jeito para isso. Não vejo assim. A Criação com Apego é sobre como educar meus filhos, de uma maneira que eu consiga tomar as melhores decisões para o meu corpo e para a minha família. Posso ser crítica e ter opiniões sobre o que funciona e o que não funciona.
A senhora ainda amamenta seus filhos? O mais velho, que tem seis anos, desmamou quando tinha pouco mais de dois anos, época em que eu estava na segunda gravidez. O mais novo, que tem hoje três anos e meio, ainda mama às vezes durante o dia, mas não à noite. Esse é o padrão normal, ele está a caminho de desmamar naturalmente. Mas não é uma decisão só dele. Em alguns momentos não posso amamentá-lo e explico isso… e ele fica triste, o que também é normal.
Um dos pilares da Criação com Apego é dormir com os filhos, prática desaconselhada pela Academia Americana de Pediatria. Como a senhora garante a segurança dos seus filhos? Temos dois futons no chão. Geralmente, durmo com o mais novo em um, e meu marido com o mais velho no outro. Não há espaços por onde um bebê ou uma criança possa cair. Não existem cobertores ou travesseiros em excesso. Não tomamos remédios ou narcóticos que poderiam nos deixar incapazes de ter consciência do nosso corpo à noite.
Por que dormir junto? Em toda a história da humanidade, exceto nos últimos dois séculos, as famílias dormiam juntas. É normal para uma mãe amamentar o filho várias vezes à noite, especialmente recém-nascidos. É normal o corpo da mãe regular a temperatura corporal do bebê à noite, é normal querer ficar perto do bebê, de poder checar a situação a todo momento.
E como fica sua vida sexual? Obviamente não posso fazer sexo na cama, mas é para isso que existem outros lugares. Nossos filhos vão fazer a transição para seu próprio espaço, para seu próprio quarto, mais cedo ou mais tarde, assim que estiverem prontos para isso. Enquanto isso, eu e meu marido encontramos maneiras de nos conectar, não só física e sexualmente, mas também emocional e intimamente. A gente precisa se esforçar para isso também, para criar esse espaço para nós dois.
Crianças criadas assim não se tornam mimadas? Existe uma noção no movimento de que não se pode mimar o bebê. Em casa há muitos limites e regras. A única coisa que meus filhos acreditam que deva, de fato, vir do mundo para eles é amor. A ideia de que criar as crianças assim não é saudável porque elas se tornam dependentes não é verdade. Não há pesquisas provando que a criança precisa ser independente o mais cedo possível para que ela não se torne dependente ou mimada.
Você fez concessões na carreira para criar seus filhos? Acho que aconteceu ao contrário. Decidi não ter mais filhos porque não queria criá-los trabalhando em um set de TV. Mas também decidi não ser uma professora pesquisadora porque queria estar mais com meus filhos. Acredito que eu teria uma vida muito diferente se não estivesse criando meus filhos dessa maneira.
Fonte: www.livrosepessoas.com
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