sábado, 30 de junho de 2012

Diabetes, uma doença desconhecida e ignorada

Os portadores de diabetes (tipo 1 ou 2) acabam se tornando auto-didatas e multiplicadores das informações que visam erradicar a ignorância acerca do tema, e dessa forma se protegerem de ciladas, armadilhas e atalhos que são propostos todos os dias.

Isso porque a Medicina, com cada vez mais ramificações, vai como que selecionando para atenção especial as doenças que monetizam aos milhões e condenando os pacientes crônicos a tratamentos ambulatoriais e caseiros, como que esperando para dar a devida atenção somente após a manifestação das seqüelas (outras doenças mais graves) que fragilizam e subjugam o doente a qualquer apelo de salvação.

Não raro, no caso de várias desses males, os pacientes são tentados a utilizarem de simpatias, chás, rezas, correntes de oração... e a aderirem ao uso de experimentos que "deram certo" em um conhecido de um conhecido...

... na verdade, placebos e dopping, visto que mascaram o resultado de exames laboratoriais que permitiriam o correto monitoramento e intervenção.

Hoje tive a oportunidade de ler um artigo de um médico decente, que descreve sua percepção acerca desse tema, com o título "Diabetes: Alguém sabe mexer com isso?", que reproduzo logo abaixo.

Joserrí de Oliveira Lucena


Diabetes: Alguém sabe mexer com isso? 

O problema é que o diabetes, normalmente silencioso e traiçoeiro, seja o dos jovens (diabetes tipo 1), ou o dos adultos e gordinhos (diabetes tipo 2), quando não bem controlado, sempre traz alguma complicação futura: causa cegueira, impotência sexual, infarto do coração, derrame, leva para a hemodiálise ou obriga a amputar as pernas. Repito: quando não controlado !

Daí pergunto-lhes: quem sabe tratar essa doença ?

No auge dos meus quinze anos de Medicina, com especializações e pós-graduações, frequentando todos os congressos possíveis da minha área, tão interligada a essa doença, somente após ingressar num mestrado com enfoque em diabetes é que pude perceber algo assustador junto com os meus colegas mestrandos: as faculdades médicas praticamente nada ensinam sobre o diabetes ! Literalmente, achamos que o conhecemos e vamos tratando os doentes “aos trancos e barrancos”.


Alguns endocrinologistas talvez até saibam, porém, poucos são os que ainda têm tempo e disposição para dar todas as informações, prescrever os remédios disponíveis e explicá-los, fazer a checagem adequada dos exames obrigatórios, atender aos inúmeros retornos necessários, envolver as famílias, etc.


É fato que tratar essa complexa doença não se restringe apenas a prescrever um comprimido ou uma dose de insulina, pedir ao paciente para não comer açúcar e mandá-lo furar o dedo, de vez em quando, para medir o nível de glicose no sangue.


Ensinar a dieta correta, orientar sobre atividades físicas, cuidados com os pés dormentes dos diabéticos, sobre o tratamento de ferimentos que custam a cicatrizar, armazenamento e aplicação dos diversos tipos de insulinas, sobre os controles diários de glicose no sangue, redução de peso, cuidados com a visão e o coração, não é factível para médicos recebendo hoje, por exemplo, apenas 34 reais líquidos por consulta, isto no melhor convênio de saúde da cidade, com vários retornos gratuitos, geralmente muito longos e cheios de dúvidas a sanar.


Também não é segredo que, excetuando os endocrinologistas, é difícil encontrar algum médico que tenha esses conhecimentos, de uma doença tão comum e tão interligada a outras, tendo em vista que, na maioria das escolas de Medicina, não se aprende nada, especialmente nessas mais recentes, que nem hospital-escola oferecem para que os seus alunos aprendam alguma coisa prática, além dos livros.


Assim, lavando as mãos como Pilatos, empurramos a dura tarefa do manejo do diabetes para as enfermeiras e nutricionistas dos postos de saúde ou, quando disponíveis, nos gabamos por, pateticamente, entregar folhetinhos de orientações ao final das consultas, sob os olhares desorientados dos clientes. É uma catástrofe !

Abnegadas, a maior parte das enfermeiras cumpre com carinho este papel, que deveria ser nosso. Entretanto, analisando criticamente o que é repassado, vê-se que elas também, nem sempre, detêm as informações corretas, por falta de planos institucionais de aprendizagem do diabetes, com cursos, palestras ou apostilas.

Muitas acabam por aprender umas com as outras, às vezes multiplicando práticas equivocadas, cujos médicos dos postos ignoram e os das clínicas particulares nem sonham em tomar conhecimento.


Resta ao diabético recorrer à internet, com os seus sites confusos e deturpados, aprender com os colegas de doença ou, quando podem, pagar consultas particulares caras, mais demoradas, com especialistas dispostos a gastar tempo ensinando-lhes o ‘be-a-bá’ .


Na prática, esta antiga negligência com essa doença tão perigosa, resulta em pacientes seguindo dietas malucas e milagrosas, trocando medicamentos por ervas, pós e “garrafadas”, uso errado das insulinas, quedas de glicose com desmaios, falta de exames obrigatórios, abandonos de tratamento e, tristemente, muitos deles já cheios de complicações graves.


A Santa Casa de Belo Horizonte, através do seu internacionalmente reconhecido ambulatório de diabetes, percebendo esta lacuna no sistema de saúde, aprovou no CAPES o seu mestrado ‘stricto sensu’ em ‘Educação em Diabetes’, inédito na América Latina, no intuito de dotar o país de multiplicadores do conhecimento nesta patologia, reduzir gastos públicos com as complicações e ajudar a salvar vidas.


Em Itaúna, iniciaremos em breve, com a autorização da secretaria municipal de saúde, junto aos diabéticos do bairro Padre Eustáquio, um projeto-piloto na tentativa de avaliar um esquema simples de controle e ensino da doença, já que o atual modelo, proposto pelo Estado de Minas Gerais, não tem tido o sucesso almejado em todas as unidades implantadas.


A Associação dos Diabéticos de Itaúna, brilhantemente criada há anos pelo ex-vereador Orlando Rodrigues, ainda com funcionamento tímido, nas dependências da exemplar Igreja Batista Central de Itaúna, será outro futuro alvo da nossa empreitada.


Nela pretendemos organizar um plano contínuo de palestras e oficinas gratuitas, abertas a todos os diabéticos da região, buscando a participação voluntária de endocrinologistas (duas novas e excelentes já estão vindo para a cidade), educador físico, enfermeiro, nutricionista, alunos da faculdade de Medicina de Itaúna, um laboratório farmacêutico especializado em diabetes e da secretaria municipal de saúde, para dotar a cidade de um dos poucos centros públicos mineiros de real controle dessa doença.


Nove mil pessoas e suas famílias nos aguardam.

Que Deus nos ilumine !


Dr Alessandro Bao Travizani

Cardiologista / Mestrando em Diabetes

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