Esse é um daqueles artigos que considero "Edição de Colecionador".
Mino Carta, é mais um dos brasileiros cônscios do papel social do Estado.
Em editorial sob o título "A Traição do PT", declara que temos muito com o que contribuir numa discussão sobre as "mazelas" do País (reproduzo na íntegra, abaixo).
Parece ignorar que partir do discurso para a ação, na maioria das vezes, custa apenas o próprio pescoço.
Reforçando essa teoria, as declarações do funcionário do Banco do Nordeste, Fred Elias de Souza, de que "Não vale a pena combater a corrupção!" (leia também abaixo).
Cadê o resultado das investigações de Ministério Público, CGU, TCU... Polícia Federal?
Suspeito, devidamente varridas prá debaixo do tapete das conveniências do chamado "Pacto de Governabilidade". A pirotecnia das manchetes de Jornal são só isso: Pirotecnia!
A opinião de Mino e a de Fred, são apenas mais duas acerca desse brasil (com b minúsculo) roto, no qual funcionários do primeiro, segundo, terceiro... milionésimo escalão têm suas "Rosemarys" desfilando como "namoradas do homem"... traficando influência em defesa de projetos de seus interesses e de aliados (e fazendo queima de arquivo de todos os que de algum modo ameaçam esse projeto de Poder).
É uma constatação que todas as pessoas inteligentes já fizeram (pelo menos os que aprenderam o que é correspondência biunívoca, no ensino fundamental) ligando o brinquedo a seu dono.
Falar é fácil! Cobrar Ética aos outros, mais fácil ainda.
Depois, a sociedade assiste, cauterizada e contente, a cremação dos linguarudos!
Um abraço beeeeeeeeeeeeeem linguarudo!
Joserrí de Oliveira Lucena
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Quarta-feira, 06 de dezembro de 2012 | 19:16
A traição do PT
Mino Carta (diretor de redação de Carta Capital)
Dizia um velho e caro amigo que a corrupção é igual à graxa das engrenagens: nas doses medidas põe o engenho a funcionar, quando é demais o emperra de vez. Falava com algum cinismo e muita ironia. Está claro que a corrupção é inaceitável in limine, mas, em matéria, no Brasil passamos da conta.
Permito-me outra comparação. A corrupção à brasileira é como o solo de Roma: basta cavar um pouco e descobrimos ruínas. No caso de Roma, antigos, gloriosos testemunhos de uma grande civilização. Infelizmente, o terreno da política nativa esconde outro gênero de ruínas, mostra as entranhas de uma forma de patrimonialismo elevado à enésima potência.
A deliberada confusão entre público e privado vem de longe na terra da casa-grande e da senzala e é doloroso verificar que, se o País cresce, o equívoco fatal se acentua. A corrupção cresce com ele. Mais doloroso ainda é que as provas da contaminação até os escalões inferiores da administração governamental confirmem o triste destino do PT. No poder, porta-se como os demais, nos quais a mazela é implacável tradição.
Assisti ao nascimento do Partido dos Trabalhadores ainda à sombra da ditadura. Vinha de uma ideia de Luiz Inácio da Silva, dito Lula, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo até ser alvejado por uma chamada Lei de Segurança Nacional. A segurança da casa-grande, obviamente.
Era o PT uma agremiação de nítida ideologia esquerdista. O tempo sugeriu retoques à plataforma inicial e a perspectiva do poder, enfim ao alcance, propôs cautelas e resguardos plausíveis. Mantinha-se, porém, a lisura dos comportamentos, a limpidez das ações. E isso tudo configurava um partido autêntico, ao contrário dos nossos habituais clubes recreativos.
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PERDEU A LINHA
O PT atual perdeu a linha, no sentido mais amplo. Demoliu seu passado honrado. Abandonou-se ao vírus da corrupção, agora a corroê-lo como se dá, desde sempre com absoluta naturalidade, com aqueles que partidos nunca foram. Seu maior líder, ao se tornar simplesmente Lula, fez um bom governo, e com justiça ganhou a condição de presidente mais popular da história do Brasil. Dilma segue-lhe os passos, com personalidade e firmeza. CartaCapital apoia a presidenta, bem como apoiou Lula. Entende, no entanto, que uma intervenção profunda e enérgica se faça necessária PT adentro.
Tempo perdido deitar esperança em relação a alguma mudança positiva em relação ao principal aliado da base governista, o PMDB de Michel Temer e José Sarney. E mesmo ao PDT de Miro Teixeira, o homem da Globo, a qual sempre há de ter um representante no governo, ou nas cercanias. Quanto ao PT, seria preciso recuperar a fé e os ideais perdidos.
Cabe dizer aqui que nunca me filiei ao PT como, de resto, a partido algum. Outro excelente amigo me define como anarcossocialista. De minha parte, considero-me combatente da igualdade, influenciado pelas lições de Antonio Gramsci, donde “meu ceticismo na inteligência e meu otimismo na ação”. Na minha visão, um partido de esquerda adequado ao presente, nosso e do mundo, seria de infinda serventia para este País, e não ouso afirmar social-democrático para que não pensem tucano.
O PT não é o que prometia ser. Foi envolvido antes por oportunistas audaciosos, depois por incompetentes covardes. Neste exato instante a exibição de velhacaria proporcionada pelo relator da CPI do Cachoeira, o deputado petista Odair Cunha, é algo magistral no seu gênero. Leiam nesta edição como se deu que ele entregasse a alma ao demônio da pusilanimidade. Ou ele não acredita mesmo no que faz, ou deveria fazer?
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FANFARRÕES
Há heróis indiscutíveis na trajetória da esquerda brasileira, poucos, a bem da sacrossanta verdade factual. No mais, há inúmeros fanfarrões exibicionistas, arrivistas hipócritas e radical-chiques enfatuados. Nem todos pareceram assim de saída, alguns enganaram crédulos e nem tanto. Na hora azada, mostraram a que vieram. E se prestaram a figurar no deprimente espetáculo que o PT proporciona hoje, igualado aos herdeiros traidores do partido do doutor Ulysses, ou do partido do engenheiro Leonel Brizola, ¬obrigados, certamente, a não descansar em paz.
Seria preciso pôr ordem nesta orgia, como recomendaria o Marquês de Sade, sem descurar do fato que algo de sadomasoquista vibra no espetáculo. Não basta mandar para casa este ou aquele funcionário subalterno. Outros hão de ser o rigor, a determinação, a severidade. Para deixar, inclusive, de oferecer de graça munição tão preciosa aos predadores da casa-grande.
Seria muito bom se pudéssemos construir/participar de uma grande mesa redonda (ou quadrada que fosse) para aprofundarmos as “mazelas” de nosso Pais e de nossa sociedade. Com certeza, todos teríamos com o que contribuir.
Como quem dá a ideia deve ser o primeiro a se colocar a disposição, faço-o desde já.
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/a-traicao-do-pt/?autor=42
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“Não vale a pena combater a corrupção”, diz o denunciante das fraudes no BNB
Fred Elias de Souza, ex-gerente de Negócios do Banco do Nordeste e autor das denúncias que derrubaram a cúpula do banco, afirma que não vale a pena dizer o que sabe no Brasil
LEOPOLDO MATEUS
NOVAS ACUSAÇÕES O funcionário do Banco do Nordeste Fred de Souza. Suas denúncias levaram à renúncia de dirigentes do Banco do Nordeste (Foto: Jarbas Oliveira/Ed. Globo)
Em setembro de 2011, Fred Elias de Souza procurou o Ministério Público Estadual do Ceará com o objetivo de levar ao conhecimento do promotor Ricardo Rocha fraudes que havia descoberto em empréstimos do Banco do Nordeste (BNB). No começo de junho deste ano, ÉPOCA revelou que uma auditoria interna do banco e outra da Controladoria Geral da União haviam constatado que as denúncias iniciais de Souza eram procedentes e que existiam vários outros empréstimos fraudulentos no banco. Só a auditoria interna do BNB mostrou que 24 empresas lesaram a instituição em mais de R$ 100 milhões apenas em Fortaleza, apresentando notas fiscais falsas ou usando laranjas para justificar empréstimos no banco. Duas semanas após a publicação, quase toda a cúpula do Banco do Nordeste já havia sido trocada.
Quase cinco meses depois, o autor das denúncias que derrubaram funcionários da alta cúpula, gerentes e técnicos, afirma que se arrependeu. “Não vale a pena um cidadão combater a corrupção no Brasil”, diz. Segundo ele, sua vida se tornou um “inferno” após as denúncias. “Nunca pensei que não somente a minha vida, quanto a da minha família, ia se tornar a mais completa e miserável situação que uma pessoa pode viver”. Em setembro do ano passado, o promotor pediu ao banco que providenciasse segurança a Fred de Souza. Ele negou. Desde então, escapou de um tiro na rua e foi perseguido de moto duas vezes. Trabalha, desde o fim de 2011, da meia-noite às 7h, avaliando o trabalho dos atendentes do Serviço de Atendimento ao Cliente do Banco.
Souza responde na Justiça da Bahia por uma das denúncias que fez, ainda não comprovada pelos órgãos de fiscalização, e diz não ter condições de bancar os gastos com sua defesa. “Estou tranquilo quanto a essa comprovação, mas, sinceramente, não tenho como arcar com tantas despesas”, diz. Ele reclama de falta de reconhecimento pelas revelações que fez. “Arrependo-me, pois o ônus da moralidade e combate à corrupção é muito cruel, ainda mais quando se está só e não há nenhum reconhecimento e ajuda”.
ÉPOCA - Como era sua vida antes de procurar o Ministério Público e fazer as denúncias de irregularidades no banco? Qual era seu cargo no banco?
Fred de Souza - Era tranquila, tanto no trabalho quanto em casa. Tudo era só rotina. Gerenciava uma carteira de pessoa física em um Posto de Atendimento dentro da Administração do Banco, só atendia funcionários. Era uma maravilha. Quando acabava, ia para casa ficar com minha mulher e meus três filhos.
ÉPOCA - O que mudou depois que suas denúncias chegaram ao Ministério Público?
Souza - Foi como se eu tivesse aberto as portas do inferno e pedido pra entrar. Nunca poderia imaginar a dimensão do problema e a legião de pessoas envolvidas nas fraudes. Muito menos o montante envolvido, tanto internamente quanto fora do Banco, nunca pensei que não somente a minha vida, quanto a da minha família iria se tornar daí por diante a mais completa e miserável situação que uma pessoa pode viver. Sem intenção, arrastei todos comigo, e o preço está sendo muito caro. O promotor, Dr. Ricardo Rocha, chegou a me oferecer o programa de proteção à testemunha, mas não pude aceitar, preferi enfrentar aqui mesmo as consequências.
ÉPOCA - O que aconteceu após as publicações das reportagens que mostravam as constatações da Controladoria Geral da União e da auditoria interna do banco, em Fortaleza e em Limoeiro, com relação às suas denúncias?
Souza - Foi excelente. Todos no Ceará e em grande parte do Brasil tomaram conhecimento do que estava acontecendo no BNB, os horrores que a antiga administração se esforçava em esconder tornaram-se públicos. Isso me deixou em paz, quanto às ameaças e atentados a mim e minha família que já tínhamos passado. Elas cessaram, muitos dos envolvidos souberam que eu não estava só, já que tudo estava sendo apurado por MPE, MPF, Polícia Federal, CGU, Banco Central. Não dependia mais de mim.
ÉPOCA - O que o sr. esperava que acontecesse?
Souza - Esperava principalmente que todos os pilantras do banco que se prestaram a servir à roubalheira e os que se locupletaram fossem identificados e respondessem pelos desvios. Como também que os falsos empresários que lesaram o BNB pagassem por seus crimes e devolvessem o que foi surrupiado. Sei que é impossível reaver todos esses valores, mas acredito nas instituições que apuram o caso. Pena que ainda vai demorar bastante pra se concluir todas as fraudes.
ÉPOCA - O sr. denunciaria tudo novamente?
Souza - Não vale pena um cidadão combater a corrupção no Brasil. Tenho de me cercar de cuidados inimagináveis quanto à segurança minha e de meus familiares, mesmo tendo provado ao denunciar as irregularidades e viver 24 horas em sobressaltos. Estou sendo processado criminalmente por um dos irmãos Meira, que até pouco tempo ocupava a Superintendência do BNB da Bahia. Terei que responder na Justiça da Bahia minhas acusações. Sei que temos que responder por nossas atitudes, estou tranquilo quanto a essa comprovação, tanto que a Direção do BNB retirou o irmão dele do cargo. Mas, sinceramente, não tenho como arcar com tantas despesas. Trabalho no BNB desde os 15 anos, estou há 30 anos lá, só sei fazer isso, ser bancário. E espero me aposentar um dia por lá. Quero ver sempre a Instituição forte e merecedora do papel que lhe foi atribuída, que é de servir e desenvolver a região Nordeste. Eu me arrependo, pois o ônus da moralidade e combate à corrupção é muito cruel, ainda mais quando se está só e não há nenhum reconhecimento e ajuda.
ÉPOCA - O que sr. espera da nova diretoria do banco? Acredita que algo vai mudar?
Souza - Espero que a desvinculação política do BNB seja mantida e cada vez mais aprimorada. Espero também que os envolvidos já identificados sejam exemplarmente punidos e afastados e que os demais envolvidos ainda ocupantes de cargos importantes também sejam exonerados, pois há muitos casos dessas pessoas que não foram arroladas ou apontadas por falta de interesse. Mas eu os conheço. E, por fim, quero dizer que nada fiz por visar cargo ou alguma outra premiação, já que só tenho gasto e despesas do pouco que me sobra e um simples reconhecimento da Instituição pelos serviços prestados já nos bastaria.
ÉPOCA – O sr. pretende continuar no banco ou procurar outro emprego?
Souza - Sim. Como falei, só aprendi na vida a ser bancário. Quero ficar no Banco, gosto muito dele. Mas só não gostaria de ficar execrado, e eternamente no limbo, trabalhando sozinho, à noite, como fui forçado a ir. Não fui eu que pedi pra sair do meu posto de trabalho.
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