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Este delegado sindical, a presidente do SEEB-RN, Marta Turra, e ao fundo o Diretor Chicão |
Admiro os que têm o poder da oratória.
É neles que me inspiro para me expressar. Sei que estou longe, sei,
mas nem por isso desisto de tentar.
Um bom soldado é aquele que defende
sua pátria, seu lar e seus compatriotas, às vezes em terras
longínquas para garantir a paz e o bem comum. Como soldado a quem os
companheiros confiaram o papel de representar, lutei minha primeira
batalha na trincheira, mesmo sem a experiência de muitos outros a
quem sequer sou digno de atar as sandálias; deles ouvi bons
conselhos, e observei os passos cuidadosamente. Posso citar aqui
Chicão, Neto, Arnaldo, Miria, Prudêncio, Abraão... e os membros da
diretoria e de apoio logístico do sindicato (munindo a tropa com
refeições e material de campanha) – é um batalhão de anônimos
que merecem todo nosso reconhecimento e aplausos.
Meu sentimento hoje é de muita
tristeza, mas ao mesmo tempo do dever cumprido.
As ruas vazias de cabos eleitorais e
limpas da poluição de santinhos dão a dimensão do efeito da
paralisação dos bancos, neste ano. Eles, os candidatos, foram os
mais prejudicados pela inanição de dinheiro para pagar as
campanhas... agora vamos suprir o mercado e garantir a livre
democracia...
Nunca devemos esquecer que as poucas
vantagens e os poucos centavos que acrescentamos ao salário nesta
greve são uma conquista para o restante de nossas carreiras, e são
mérito de uns poucos teimosos que nestes dias de greve acordaram
mais cedo e dormiram mais tarde que o habitual, para garantir o
direito constitucional da representação sindical e o respeito à
decisão colegiada e soberana da Assembléia.
Nosso piso, já em defasagem, aumenta
em 13% só nessa campanha, quando comparado ao que foi dado às outras instituições bancárias. Somos filhos do mesmo pai (Governo Federal), mas não
parece.
Temos outros temas importantes, que
infelizmente não travam a pauta de negociações, como a Isonomia, o
Assédio Moral, a perseguição e a transparência na distribuição
de funções (nas quais o critério subjetivo não seja fator
prepoderante). Entendemos que não deveria ser atribuído ao universo
de funcionários os desvios e prejuízos financeiros de profissionais
do crime organizado (quadrilhas), via provisionamento desses roubos.
Senão todos, mas a maioria de nós
virou pronafianos, através daquele empréstimo para pagar em 5 anos,
sendo 2 de carência, por causa dessa prática.
Todos aqui sabemos o são Grupos de
Estudo: a desculpa para não chegar a lugar nenhum e enrolar.
Todos nessa sala sabemos que poderíamos
ir muito mais longe.
Mas somos limitados, em grande parte em
conseqüência de uma política de comissionamento a granel, pela
qual 75% dos funcionários são gestores. O Resultado não poderia
ser outro, senão esse rolo compressor, que trata muitos de nós como
robôs teleguiados, que comparecem apenas às últimas Assembléias
APENAS para cumprir seu programa implantado pela MATRIX.
Muitas vezes na vida permitimos que
roubem nosso livre arbítrio, que manipulem nossa consciência, e que
nos conduzam a executar procedimentos que ferem nossos princípios,
valores e crenças mais sagradas – mas é o preço a que nos
submetemos, sob a desculpa que temos filhos pra criar.
E eles, nossos filhos, o que acharão
disso? Que legado estamos ensinando a eles? Que imagem terão de nós?
E nossos pais, o
que dizem de nós? Podemos dizer que eles não sentem vergonha de
nosso comportamento? Foi pra isso que fomos gerados?
A propósito, tenham filhos; muitos
filhos. Afinal um dos itens considerados fundamentais pelos patrões
foi a ampliação da licença paternidade – como se algum de nós
estivéssemos dispostos a transformar nossas esposas em vacas
parideiras. Nosso “lucro”? 300 dias de folga ao longo de 30 anos
de trabalho, e o desafio de criar 30 comedores de farinha com esse
salário de fome.
Vocês sabem que ao longo das últimas
décadas fomos convidados a vestir a camisa, a suar a camisa, mas a
dar o sangue, é a primeira vez. Dar o sangue por folgas fere nossa
dignidade, desrespeita convicções religiosas e cria mais um ítem
da extensa pauta pela isonomia.
Colegas, o cotidiano por vezes nos
colocam em rota de colisão e em polos inversos, que naturalmente
nos afastam. Mas somos irmãos na caminhada.
Vocês sabem que, em casa, quando
irmãos discordam, podem ir às vias de fato. Porém, contra um
inimigo externo, unem-se fervorosamente e essa união muitas vezes
consegue o improvável.
Lutar contra o inimigo comum é fácil.
Com os irmãos divididos, impossível.
A gente não pode se digladiar. É tudo
que nos destrói.
Por isso, resta meu agradecimento pelos
dias de convivência pacífica, pela compreensão do papel
desempenhado por cada ator durante o movimento.
Sejamos proativos. Comecemos hoje,
aqui, agora, uma pauta que nos motive o ano inteiro, e que represente
o anseio de novos e antigos funcionários. Construamos uma proposta
ampla, que contemple os que ainda querem ter filhos, os que não os
têm por opção, e os que não mais os terão (nem querendo).
Albert Einstein afirmou que “O mundo
é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o
mal, e sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer”.
Nas décadas de 80, 90 e 2000, quando
um certo partido (vocês sabem qual) era oposição, assisti muitos
debates da Câmara e do Senado, que, dada a eloqüência dos
oradores, achava que ninguém ousaria votar contra aquele determinado
tema. Eram verdadeiros shows aqueles discursos.
Era uma decepção atrás da outra, nas
votações esmagadoras, que haviam sido negociadas no toma-lá-dá-cá,
nos porões e sótãos dos palácios de Brasília, cujas bancadas
votavam em bloco – mesmo para subtrair cláusulas pétreas, como a
aposentadoria aos 30 anos de contribuição.
Hoje é diferente?
Aquele partido hoje é o governo, e
nós, quem nem fomos, nem somos direita (senão a escada para a
ascensão popular ao poder), carecemos de vozes discordantes, dentro
de um movimento que cada vez mais deixa de representar o trabalhador,
para se transformar em chapa-branca, num sindicalismo de resultados e
do discurso “Lulinha Paz e Amor”.
Eu trocaria o discurso “paz e amor”
por um pouco de arenga, e pela continuidade do movimento, ao invés
de apenas ratificarmos uma decisão que foi tomada a quilômetros
daqui, até por pessoas que pouco têm a ver com os 60 anos de nossa empresa e que certamente não estão trabalhando para
fortalecê-la, e poderão nem estar lá daqui a pouco tempo.
Como sonhador, peço que façam valer
suas consciências, na hora de votar.
Muito obrigado.
Joserrí de Oliveira Lucena
Votação em Natal-RN, conclui pelo fim da Greve |
A luta continua... vamos construir a pauta de 2013! |