Num país de dimensões continentais, é comum que expressões
idiomáticas surjam, e que algumas palavras não tenham o mesmo significado ou
sentido, sendo por vezes ambíguas e até antônimas, e até sejam utilizadas como
apelo de marketing, para atrair a atenção do público, cada vez mais apático ao
festival de besteirol que assola o país (FEBEAPÁ).
Isso decorre do fato de nosso povoamento ser fruto de
imigrações de povos diferentes, com suas culturas, tradições, dialetos... e das
interações entre si e destes com o nativo, influenciando a formação de nosso
vocabulário. E foi assim também com palavras como Liga e Baladeira.
Mas não se preoupe. O presente ensaio não é sobre o programa
de televisão derivado do CQC e apresentado por personalidades do underground
artístico, nem sobre os adeptos da balada.
Nos meus tempos de criança, a gente utilizava a baladeira
para caçar pequenos animais silvestres. Baladeira aqui é usada como sinônimo de
estilíngue e não como adjetivo para a pessoa que gosta de balada. A gente abusava
da criatividade na manufatura doméstica da ferramenta (utilizada para a caça de
animais silvestres). As melhores eram
muito disputadas e negociadas na base do escambo.
Uma forquilha simetricamente dividida em V, de árvores da
região, resistentes e flexíveis, conforme o propósito, eram unidos a tiras de
câmaras de ar, cuidadosamente recortadas e atadas a um pedaço de couro cru. No
processo de aperfeiçoamento, os que tinham acesso a materiais industrializados
utilizavam, no lugar das tiras de câmaras de ar, pedaços de material sintético de
látex, utilizado para aplicação de soro em hospitais, conhecidos popularmente
por “liga de soro”.
Fotos de Baladeira |
Pois bem, a Liga de Soro permitia uma maior tensão e uma
maior pressão e homogeineidade no tiro. Quanto mais coragem o atirador tivesse,
podia estirar 30 cm de liga até atingir mais de um metro de comprimento e
desferir um tiro fatal na sua caça.
O que muita gente que não viveu aquela época não sabe, é que
a liga tem um ponto de desgaste e ruptura difíceis de prever, mas com perdas
irreversíveis e às vezes irreparáveis.
Quando isso ocorre, a menor perda é a caça pretendida. A
destruição da ferramenta, forçada além do seu ponto máximo de tensão, é a perda
material substituível (por outra melhor ou não). Mas o atirador pode sofrer
desde ferimentos superficiais a mais graves, podendo até perda a visão, pois o olho é o órgão mais
vulnerável na rota dos destroços da arma.
Faça você mesmo uma analogia para o mundo corporativo
moderno.
Acredito que chegaremos à mesma conclusão.
Joserrí de Oliveira Lucena
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