Meus textos em geral são sérios, mas abro aqui parênteses para expor um do tipo humor e fake.
"Um dia de merda!" é texto atribuído a Luis Fernando Veríssimo, e tido como verídico. Não é uma coisa, nem outra; o texto abaixo é muito engraçado, tem um estilo semelhante aos que o próprio escreve, tem até aquele "quê" de qualquer semelhança com experiências pessoais que já vivemos em algum momento, mas nem é de Veríssimo, e muito provavelmente não é verídico.
Narrar como Verídico e atribuir a Veríssimo, foi uma tentativa de dar status ao texto. Não precisava.
Apesar de amplamente divulgado como sendo de Luis Fernando, o texto é apócrifo (até que alguém reivindique a autoria).
Eu sempre rio muito relendo e imaginando a cena toda.
Divirta-se... e previna-se de viver um dia de merda.
Joserrí de Oliveira Lucena
Luis Fernando Veríssimo, é um excelente escritor. Tem várias obras publicadas, como "As mentiras que os homens contam". |
---
Um dia de merda (texto apócrifo)
Aeroporto
Santos Dumont, 15:30. Senti um pequeno mal estar causado por uma
cólica intestinal, mas nada que uma urinada ou uma barrigada não
aliviasse. Mas, atrasado para chegar ao ônibus que me levaria para o
Galeão, de onde partiria o vôo para Miami, resolvi segurar as
pontas. Afinal de contas são só uns 15 minutos de busão. “Chegando
lá, tenho tempo de sobra para dar aquela mijadinha esperta,
tranqüilo”. O avião só sairia às 16:30.
Entrando
no ônibus, sem sanitários, senti a primeira contração e tomei
consciência de que minha gravidez fecal chegara ao nono mês e que
faria um parto de cócoras assim que entrasse no banheiro do
aeroporto. Virei para o meu amigo que me acompanhava e, sutil, falei:
“Cara, mal posso esperar para chegar na merda do aeroporto porque
preciso largar um barro”. Nesse momento, senti um urubu beliscando
minha cueca, mas botei a força de vontade para trabalhar e segurei a
onda. O ônibus nem tinha começado a andar quando, para meu
desespero, uma voz disse pelo alto falante: “Senhoras e senhores,
nossa viagem entre os dois aeroportos levará em torno de 1 hora,
devido às obras na pista”. Aí o urubu ficou maluco querendo sair
a qualquer custo. Fiz um esforço hercúleo para segurar o trem merda
que estava para chegar na estação ânus a qualquer momento. Suava
em bicas.
Meu
amigo percebeu e, como bom amigo que era, aproveitou para tirar um
sarro. O alívio provisório veio em forma de bolhas estomacais,
indicando que pelo menos por enquanto as coisas tinham se acomodado.
Tentava me distrair vendo TV, mas só conseguia pensar em um
banheiro, não com uma privada, mas com um vaso sanitário tão
branco e tão limpo que alguém poderia botar seu almoço nele. E o
papel higiênico então: branco e macio, com textura e perfume e,
ops, senti um volume almofadado entre meu traseiro e o assento do
ônibus e percebi, consternado, que havia cagado. Um cocô sólido e
comprido daqueles que dão orgulho de pai ao seu autor. Daqueles que
dá vontade de ligar pros amigos e parentes e convidá-los a apreciar
na privada. Tão perfeita obra, dava pra expor em uma bienal. Mas sem
dúvida, a situação tava tensa. Olhei para o meu amigo, procurando
um pouco de solidariedade, e confessei sério: “Cara, caguei”.
Quando
meu amigo parou de rir, uns cinco minutos depois, aconselhou-me a
relaxar, pois agora estava tudo sob controle. “Que se dane, me
limpo no aeroporto” – pensei. “Pior que isso não fico”. Mal
o ônibus entrou em movimento, a cólica recomeçou forte. Arregalei
os olhos, segurei-me na cadeira, mas não pude evitar e, sem muita
cerimônia ou anunciação, veio a segunda leva de merda. Dessa vez,
como uma pasta morna. Foi merda para tudo que é lado, borrando,
esquentando e melando a bunda, cueca, barra da camisa, pernas,
panturrilha, calças, meias e pés. E mais uma cólica anunciando
mais merda, agora líquida, das que queimam o fiofó do freguês ao
sair rumo à liberdade. E depois um peido tipo bufa, que eu nem
tentei segurar, afinal de contas o que era um peidinho para quem já
estava todo cagado. Já o peido seguinte, foi do tipo que pesa. E me
caguei pela quarta vez.
Lembrei
de um amigo que certa vez estava com tanta caganeira que resolveu
botar modess na cueca, mas colocou as linhas adesivas viradas para
cima e quando foi tirá-lo levou metade dos pêlos do rabo junto. Mas
era tarde demais para tal artifício absorvente. Tinha menstruado
tanta merda que nem uma bomba de cisterna poderia me ajudar a limpar
a sujeirada. Finalmente cheguei ao aeroporto e, saindo apressado com
passos curtinhos, supliquei ao meu amigo que apanhasse minha mala no
bagageiro do ônibus e a levasse ao sanitário do aeroporto para que
eu pudesse trocar de roupas. Corri ao banheiro e, entrando de boxe em
boxe, constatei a falta de papel higiênico em todos os cinco.
Olhei
para cima e blasfemei: “Agora chega, né?” Entrei no último, sem
papel mesmo, e tirei a roupa toda para analisar minha situação (que
conclui como sendo o fundo do poço) e esperar pela minha salvação,
com roupas limpinhas e cheirosinhas e com ela uma lufada de dignidade
no meu dia.
Meu
amigo entrou no banheiro com pressa, tinha feito o “check-in” e
ia correndo tentar segurar o vôo. Jogou por cima do boxe o cartão
de embarque e uma maleta de mão e saiu antes de qualquer protesto de
minha parte. Ele tinha despachado a mala com roupas. Na mala de mão
só tinha um pulôver de gola “V”. A temperatura em Miami era de
aproximadamente 35 graus.
Desesperado,
comecei a analisar quais de minhas roupas seriam, de algum modo,
aproveitáveis. Minha cueca joguei no lixo. A camisa era história.
As calças estavam deploráveis e, assim como minhas meias, mudaram
de cor tingidas pela merda. Meus sapatos estavam nota 3, numa escala
de 1 a 10. Teria que improvisar. A invenção é mãe da necessidade,
então transformei uma simples privada em uma magnífica máquina de
lavar. Virei a calça do lado avesso, segurei-a pela barra, e
mergulhei a parte atingida na água. Comecei a dar descarga até que
o grosso da merda se desprendeu.
Estava
pronto para embarcar. Saí do banheiro e atravessei o aeroporto em
direção ao portão de embarque trajando sapatos sem meias, as
calças do lado avesso e molhadas da cintura ao joelho (não
exatamente limpas) e o pulôver gola “V”, sem camisa. Mas
caminhava com a dignidade de um lorde.
Embarquei
no avião, onde todos os passageiros estavam esperando “O RAPAZ QUE
ESTAVA NO BANHEIRO” e atravessei todo o corredor até o meu
assento, ao lado do meu amigo que sorria. A aeromoça se aproximou e
perguntou se precisava de algo. Eu cheguei a pensar em pedir 120
toalhinhas perfumadas para disfarçar o cheiro de fossa transbordante
e uma gilete para cortar os pulsos, mas decidi não pedir: “Nada,
obrigado. Eu só queria esquecer este dia de merda!”
Nenhum comentário:
Postar um comentário