segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Se Serra tivesse ganhado a eleição...

Crônica de Hildegard Angel:

As recepções do Itamaraty se José Serra tivesse ganho a eleição

(Esta crônica de humor foi escrita para a eventualidade de uma vitória de José Serra, e seria publicada ontem, assim que fossem anunciados os resultados. Como a vitoriosa foi Dilma Rousseff, foi publicado o texto em torno  do mesmo tema protagonizado por ela, conforme orientação do editor deste portal. Porém, diante da reação raivosa do candidato, que antes havia prometido mão estendida e união, se vencesse, e agiu justamente da forma oposta como perdedor, decidi divulgar o material, que não seria publicado. E por favor não pensem que estou chutando cachorro morto. Apenas colocando em prática a máxima de que 'amor' com amor se paga)
Dia 1º de janeiro de 2011, já empossado, o presidente José Serra se reúne com o ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso (de volta ao antigo posto), para discutirem a agenda internacional. Não a agenda política, muito menos a de negócios, mas a agenda de festas para os visitantes estrangeiros programados para virem ao Brasil naquele primeiro semestre. “Vamos retomar o costume tradicional do Itamaraty das grandes recepções a rigor, que foi abandonado no governo Lula. Afinal, elas conferem dignidade ao país e são fundamentais à liturgia do cargo”, propôs o novo ministro e o presidente prontamente acatou. O ministro prosseguiu: “Sugiro que voltemos a pedir traje black-tie, muito mais civilizado e de acordo com o protocolo. Não somos Cuba nem nada pra receber de manga de camisa”, disse, exagerando a crítica ao governo anterior em que os convites pediam apenas passeio completo. E prosseguiu: “Afinal, Vossa Excelência fica muito bem de smoking. Ou quem sabe o senhor prefere casaca?” (falou FHC, agora pensando em causa própria, na sua elegante pessoa)...
Excluída a casaca - com um certo pesar, diga-se de passagem (mas aí falou mais alto um certo senso de ridículo) - os dois articuladores passaram ao item fundamental: o buffet. José Serra: “Pelo amor de Deus, Fernando Henrique, chega de surubim do Gagliardi”. Referia-se ao famoso banqueteiro de Brasília, que tradicionalmente assina os ágapes no Palácio do Itamaraty e que se notabilizou por usar surubim (prata da casa, isto é, de nossos rios) em substituição ao dispendioso salmão. “Bobagem, presidente, com o dólar tão desvalorizado, o surubim está muito mais caro do que o salmão da Noruega; vamos servir só importados e sem receio de crítica. Quanto ao chef, vamos dar um upgrade à Roberta Sudbrack, que no meu governo assinava os jantares no Alvorada. Vamos fazê-la chef oficial do Itamaraty!”. Serra hesitou; não que não gostasse da cozinha da Sudbrack, é que ele estava pensando mais alto, tipo: "Mas não tem um outro cozinheiro, que está mais em evidência, Alex... Alex...". “Alex Atala”, ajudou FHC. “Este mesmo, do restaurante D.O.M., que é o 18º melhor do mundo”, complementou Serra, mostrando erudição gastronômica. Hábil, FHC aconselhou, fazendo prevalecer sua sugestão com um argumento irrebatível: “Presidente, se não temos o melhor do mundo é melhor uma figura neutra, como a Roberta. Não vai ficar bem dizer aos nossos convidados que eles estão sendo servidos com a comida do 18º melhor, o senhor não acha?”
Impaciente, pois já passam de três da manhã e ele ainda tem audiências com três ministros (Serra, desde o primeiro dia de seu governo, implantou seu velho hábito, cultivado em todos os cargos, de trocar o dia pela noite, começando seu expediente à tarde e varando a madrugada)... Pois bem, impaciente, Serra apressou seu ministro: “E as atrações? E a lista de convidados?”. Fernando Henrique faz um certo suspense: “Hummm. Talvez um show black popular brasileiro, mostrando que não somos um país racista. Eu mesmo tenho um pé na cozinha, todos sabem”. E Serra: “Ah, chama a Sandra de Sá, ela me apoiou”. “Não, presidente, essa não pode, porque desmentiu a inclusão de seu nome no manifesto em apoio ao senhor. E ainda por cima declarou o voto em Dilma”. “E o Ivan Lois?”, sugeriu o presidente. “Esse também não pode, pelo mesmo motivo. É melhor chamarmos o Dominguinho do acordeon ou Chitãozinho & Xororó. Estes não desmentiram o apoio. Ah, tem também a Sandy”. Meditativo, Serra hesitou: “Hummm, acho que precisamos alguém, assim, mais MPB. Tipo o Chico...”. “Não pode, presidente, não pode. Mas temos a Fafá, serve?”. “Serve. E a gente bota ela pra cantar o Hino Nacional, não esquece. Agora vamos à lista...”
O ministro alega que é preciso seguir a ordem da pauta e sugere ao presidente passarem ao nome do mestre de cerimônias: “Que tal a Regina Duarte?”. “Não, esta tem medo de tudo” responde JS. “Quem sabe na hora pega medo também de microfone?”, continua. “Maitê Proença é um bom nome, presidente”. “Essa não! Essa não! Essa matou o Saulo, você não viu a novela Passione?” Resignado, Fernando vai desfiando sugestões de artistas aliados: “Carlos Vereza?”. “Não, este é um trem fantasma, tudo pode acontecer”. “Izabelita dos Patins?”. “Não, apesar de não sermos homofóbicos, it's a little too much”, falou em inglês o novo presidente, provocando leve irritação em seu ministro, que não aprovou a pronúncia. “Joelma?”. “Esta não é apresentadora, é cantora”, respondeu Serra. “Ah é?”, manifestou FHC, que jamais ouvira falar da banda Calypso. “Therezinha Sodré? Vera Gimenez? Narjara Tureta?”, o ministro vai sugerindo. “Não! Não! Não!”, retruca o já exaurido presidente, que decide ele mesmo bater o martelo: “Chama o Juca de Oliveira, este me apoiou”. “Mas vão acusar o senhor de favorecer os paulistas, presidente...”. “Ah, é guerra, é? Então chama a Glória e o Tarcísio, pronto, dois paulistas. Quero ver o que vão falar!”, decidiu JS, encerrando de vez a questão e insistindo: “E a lista? A lista?”...
“Bem” - diz FHC – “sugiro que encabecemos a lista de convidados da primeira recepção com o papa Bento 16, a quem o senhor deve a sua eleição”. “Mas o papa não pode, a recepção é para o presidente da Indonésia, que é um país muçulmano”. “Tá bom, presidente Serra, vamos deixar o papa pra próxima, que vai ser para o presidente de Andorra, país católico. Prosseguindo, excelência, vamos precisar ter muitos intelectuais na primeira recepção, pra mostrar a diferença de nosso governo formado por acadêmicos”. “Ah, chama o Affonso Romano de Sant'Anna”, sugere Serra. “Este não pode”. “Como não pode? Ele encabeçou a lista dos intelectuais em apoio a mim!”. “Encabeçou e desencabeçou em seguida. Que tal a Ruth Rocha?”. “Esta escreveu o quê mesmo?”. “Livros infantis, presidente, livros infantis...”. “Hummm, não temos um outro nome, digamos, de literatura mais adulta?”. “Temos, presidente. Temos o Ferreira Gullar”. “Bom nome, bom nome...”
“Agora vamos à área médica, presidente. Eu sugiro...”. “Não, Fernando Henrique, quem vai sugerir é o meu ministro da Saúde, o Jacob Kligerman. Deixa a lista dos médicos com ele”. Eis que o chefe de gabinete, Marcelo Madureira, pede licença, entra e avisa, abrindo a boca, sonolento, num longo bocejo: “Presidente, já passam das quatro da manhã e o ministro Arnaldo Jabor [da Cultura] está esperando há duas horas. Até improvisamos um saco de dormir pra ele na sala de espera, mas ele ronca muito e fica falando, enquanto dorme, ‘Suprema Felicidade, Tammy di Calafiori... Tammy... Marilyn... Tammy’, ninguém aguenta mais. O ministro Cesar Maia, que também espera a vez há um tempão, já está reclamando”. “Tá bom, tá bom, vamos encerrar agora, depois a gente continua. Mas deixa aqui a lista de apoio dos intelectuais a mim, Fernando Henrique, pra eu dar uma estudada nos nomes dos convidados.”
Saem FHC e Madureira. Serra, insatisfeito com o desempenho de seu ministro, logo na primeira reunião, bate o olho na lista e – eureka!: “Já sei, já sei, não vou mudar de convidados. Vou mudar de ministro! Madureira (ele diz ao interfone de mesa), chama a Ana Maria Tornaghi, que me apoiou, quero fazer a ela um convite”. “Mas, ministro, ela deve estar dormindo!”. “A Ana Maria? Que nada, a essa hora ela deve estar lá no Jobi do Leblon. Ana Maria é como eu, só dorme de manhã. E ela conhece todo mundo em Nova York. Vai dar certíssimo como minha ministra das Relações Exteriores”...

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