Durante o curso do Magistério, em 1989, li um livro interessantísimo do professor Hamilton Werneck:
O problema é que, diferente de um paciente, que pode optar não ser tratado por um médico que é famoso por matar seus pacientes, a maioria dos alunos não pode escolher seus professores...
"Se
a boa escola é a que reprova, o bom hospital é o que mata."
Resumo
feito por Mayara Lopes
"Triste
não é mudar de idéia.
Triste é
não ter idéia para mudar".
Francis
Bacon
APRESENTAÇÃO
A
obra possui dezesseis capítulos, com tendência multidisciplinar,
constatando que sem auto-estima, há maior dificuldade de se
assimilar conceitos, ainda mais conceitos novos que o sistema
educacional vem propondo.
CAPÍTULO I: “A
FALÁCIA DA CURVA DE GAUSS”
Inicia avaliando o uso da curva de
Gauss como sitematizadora da situação dos alunos na qual os bem
dotados estão acima, e, os menos dotados abaixo. O que embasa que em
avaliações normais há reprovação para os abaixo da curva.
Tal
processo avaliativo dito normal não averigua fatores como a
criatividade do sujeito, o tempo gasto, e o ser humano envolvido na
situação.
A postura científica da curva de Gauss não deve se
aplicar a educação, pois tende a coisificá-la e a justificar o
conceito de “reprovar com justiça”.
A pessoa humana martela a
curva com suas diversas virtudes, diversos tipos de inteligência.
CAPÍTULO II:
“AMASSANDO A CURVA”
Sugere que a competição começa com o
professor no objetivo e classificar o aluno ao invés de tentar levar
a todos a atingir o conhecimento. Mostrando a problemática de pouco
tempo para a grande carga de conteúdo.
Expõe que a educação
vem sendo enterrada pela normatização e uniformização com padrões
rígidos quanto à temporalidade da formação.
Faz uma analogia
com o tempo de aprendizado e tempo de cura, mostrando que ambos os
casos contam com diferenças individuais e que tanto a convalescença
quanto o aprendizado não obedecem a padrões de tempo
pré-estipulados.
O importante é chegar ao destino e não o tempo
que se gasta para tal. O importante é tentar várias vias, várias
formas de aprender, mas sempre tentar.
Cita o sistema do
escotismo, criado por Baden Pawel em que o grupo fica livre, mas que
em determinada hora o estabelecido deveria estar pronto para a
inspeção do campo e formatura para a bandeira. Considera que
estabelecer competição é dizer que independente do esforço,
grupos de menor experiência não tem premiação, ou mesmo, não tem
tanto valor quanto os bons. Esse tipo de padrão competitivo é uma
fábrica de desanimados.
Quem ensina deve centrar no aprendizado
da maior parte do grupo possível.
CAPÍTULO III: “O
CURRÍCULO MATA”
A vivência profissional não envolve somente o
currículo escolar, mas a experiência de vida. Segundo o dito
latino: “Non scholae sed vitae discimus”, não aprendemos para a
escola, mas para a vida.
O grande problema da escola é que se
decora para testes, aprendem-se macetes, dribla-se a avaliação.
Preparar-se para a vida fica em plano secundário ou mesmo
esquecido.
Nas palavras do autor: “... estudou coisas enormes,
quantidades que não cabiam em cadernos e quantos livros você foi
obrigado a comprar e nunca usou...”
A maioria dos assuntos
pesquisados não tem oportunidade de ser usado na vida, e quanto
tempo é perdido enquanto poderia estar se estudando o que se
gosta.
Os pilares da escola são: currículo, programa e nota; Em
detrimento ao saber e ao deleite humano.
Chega-se a necessitar de
um bisturi pedagógico que corte fundo. O currículo tem que abranger
leitura, visitas, relatórios, observações e movimento.
É
importante o cuidado de perceber a necessidade de disciplinas novas,
lecionando coisas diferentes.
Transcrevendo literalmente: “Cada
disciplina é ministrada para atender à corporação dos docentes,
enquanto a sociedade é muito maior que a corporação de
docentes”.
A educação tem que servir à sociedade.
CAPÍTULO IV: “A
QUANTIDADE SATURA”
Ministrar muito conteúdo leva ao desanimo e
a completa entrega diante das dificuldades, pois as mesmas parecem
impossíveis de serem superadas.
O estudo que deve ser um processo
de renovação pessoal passa a ser uma tortura da inteligência.
Observa-se o aluno a aprender o que gosta e o que não gosta, o que é
necessário e o absolutamente desnecessário, o atualizado e o
desatualizado.
A função de enxugar o conteúdo é do professor.
Mas, o professor também está marcado pela saturação das
quantidades, ele foi formado em um sistema onde o mestre é o agente
de uma sociedade a favor de uma elitização.
Perpetua-se os
erros, porque assim que foram ensinados e nunca se ensinou a respeito
do questionamento que é feito.
O limite humano é dado pelo
tamanho das idéias.
CAPÍTULO V: “O QUE É
QUALIDADE?”
Segundo o autor qualidade é a linguagem da moda que
incorpora conceitos e depois critica-os. Alguns ainda usam o termo
reciclagem profissional como que a aproveitar o lixo intelectual.
O
grande problema da quantidade é a insuficiência das ferramentas
disponíveis. Não adianta conceituação e sistematização sem a
presença do elemento humano.
Um grande acontecimento educacional
é quando dois seres se encontram e suas idéias se chocam, tais
seres se tornam diferentes e é imprevisível o que poderá suceder a
cada um. A excelência humana é mais completa que a excelência
acadêmica. E, a verdadeira qualidade em educação depende é da
qualidade humana. Se eficiência é fazer bem feito, eficácia é
fazer o que deve ser feito. Só eficiência não basta, é preciso
ter eficácia, fazer o que deve ser feito.
CAPÍTULO VI: “A
UTILIDADE ANIMA”
Quando alguém percebe que faz coisas úteis,
melhora sua auto-estima e a alegria anima todo o seu organismo.
O
amargor não cura, a vida tem seus dissabores, mas aumentar os que já
existem é um contra-senso.
Deve-se tirar o que não é útil do
programa para proporcionar um conhecimento com prazer.
CAPÍTULO
VII: “A ATUALIZAÇÃO MOTIVA”
Estudar conteúdos atuais é
motivador porque existe uma relação imediata com a realidade da
vida.
O autor denomina os professores arcaicos de “professauros”
e usa a máxima: “Quem não se atualiza, fossiliza-se”.
CAPÍTULO
VIII: “A REPROVAÇÃO COMPROMETE A INSTITUIÇÃO”
Diante da
reprovação o aluno é colocado como grande culpado do seu
fracasso.
Com a reprovação como tradição, a escola serve mais
para impedir o sujeito do que para promovê-lo. Tal fato deixa a
libertação proposta por diversos sistemas de educação restrita ao
papel, pois não efetiva mudanças no curriculum ou no
programa.
Mediante a visão da escola, não importa o tipo de
cidadão que é capaz de formar, mas a capacidade que tem de promover
um estudante, mesmo que ele passe por cima dos demais, de acordo com
uma competitividade selvagem aprendida entre muros, entre os muros da
escola.
Segundo a obra: “A reprovação está dentro de um
contexto, não se trata de um fato isolado. São culpa da escola, do
aluno, da família e do sistema.”
O grande problema da maioria
dos professores é que a matéria prima pode não reagir porque não
tem vontade, mas os alunos são seres humanos e podem dizer que
concordam ou não. Se o aluno diz não a algum conteúdo é sempre
culpado por não aprender, por não querer aprender. Os demais
isentam-se da culpa que é toda lançada nele.
A reprovação é
sempre mais um problema de “ensinagem” do que de
aprendizagem.
CAPÍTULO IX: “OS PONTOS FORTES DOS ALUNOS”
“O
papel do professor é buscar os pontos fortes dos alunos.” –
Santo Agostinho;
Quando o professor busca o ponto fraco do aluno,
ele mesmo se sente frustado. É preciso promover mais e recriminar
menos.
Os professores, de um modo geral, assinalam o erro e
rabiscam bem o que está errado com canetas especiais para chamar
atenção sobre o erro. Tal método perde a força de fixação
acerca do acerto. Até a família foi sugestionada de tal forma, e
querem que o professor marque o erro e corrija.
O professor deve
apenas escrever a forma correta.
Ninguém precisa aprender
sofrendo.
CAPÍTULO X: “A ESCOLA DO FUTURO”
Terá que
lidar com a questão do virtual e uma possível redução das
manifestações humanas. Com o mundo virtual também será mais fácil
aprender.
Deve-se humanizar o novo contexto para não haver perda
da que existe de precioso na humanidade: a capacidade de distinção
entre o ser e o não ser.
O autor relata que a escola do futuro
vai requerer dos educadores uma transformação na linha da
humanização. As inteligências múltiplas deverão ser
desenvolvidas para embasar as pessoas para lidarem com situações
imprevisíveis.
CAPÍTULO XI: “MUDANDO PARADIGMAS”
Os
paradigmas dão segurança em relação ao passado e criam o medo em
relação ao novo.
É a ótica do negativo que justifica o título
da obra. O fato de considerarem a reprovação como meta, de não
cultivar o prazer de estar na escola.
Existem muitos paradigmas em
relação à educação, que se instalaram e não auxiliam o
aprendizado.
Alguns deles são: seriação, nota, bimestre letivo,
dependência, recuperação, dentre outros.
Há professores que se
realizam nesse conceito para pagar, sem perceber, tributos aos
paradigmas do passado.
Nas palavras do autor: “O que serve fica
de lado, o que não serve e ajuda nas reprovações, retenções e
dependências são usadas à larga porque muitos ainda pensam que a
boa escola é a que reprova, como se o bom hospital fosse aquele que
matasse”.
A escola não pode mais depender dos medrosos que
fogem da ousadia de viver.
CAPÍTULO XII:
“SOMBREAMENTO”
Algumas instituições classificam os
acadêmicos de acordo com o nível do que deixou de aprende, o que é
entendido como sobreamento.
Não basta ser humano, o código
lingüístico tem que acompanhar, pois como se pensa influi em como
se fala e o modo de falar é a expressão da própria vida.
CAPÍTULO
XIII: “ABATIMENTO”
Um professor não pode se mostrar abatido,
pois, abatimento é um sintoma grave que acaba sendo transferido para
o aluno, que por sua vez, transfere para o conteúdo
ministrado.
Assim, os alunos passam a achar sem saber as razões,
que a escola é insuportável, chata, um lugar a ser evitado.
Uma
postura de desânimo expulsa os alunos da escola, pois os mesmos se
entediam com a lamúria.
CAPÍTULO XIV: “PROSTRAÇÃO”
“Abracei
o vento como último momento na praia e fui dormir tendo o nada como
companhia”.
Cada profissão tem seu padrão de realização,
assim como o circense se nutre com a platéia. O professor não pode
e não deve nutrir-se no nada, deve nutrir-se do prazer de ver o que
ensinou; De perceber que preparou os seres humanos para o
imprevisível do amanhã, ensinando pessoas a entender as demais em
busca de soluções.
CAPÍTULO XV: “ÂNIMO E
PERSISTÊNCIA”
“Temos primeiro que compreender que não há
vida sem risco – e que quando nossa alma é forte, tudo mais é
secundário, até os riscos”. – Elie Wiesel (sobrevivente do
Holocausto).
O autor defende a necessidade da existência e adoção
de valores, ressaltando que é fundamental focar em um objetivo.
Pois, sem valores não se chega à parte alguma, ou ainda aonde o
vento levar se houver vento.
Uma solução diante da divergência
de opiniões é a democracia por possibilitar a vida de forma mais
harmônica em meio ao pluralismo. Viver o plural não precisa ser uma
guerra de oponentes, mas uma resultante de sensatez.
O capitalismo
termina com a sentença: “A escola precisa ser pensada na linha da
informação, da criatividade, da intuição e do sonho”.
CAPÍTULO
XVI: “EDUCAÇÃO GERADA NA ESPERANÇA”
A esperança dá a
certeza, a certeza de que os problemas podem ser superados mediante a
uma postura de metas claras.
Uma saída para os problemas
educacionais está em estabelecer metas claras e saber os valores nos
quais embasar-se e escolher os valores adotados que guiarão as
ações.
A alegria deve aliar-se a felicidade que é capaz de
promover a realização.
Segundo Einstein, se o sujeito faz parte
do universo, quando o mesmo cresce, o universo todo cresce com ele.
REFERÊNCIA:
WERNECK, Hamilton. "Se
a boa escola é a que reprova, o bom hospital é o que mata". 8
edição. Rio de Janeiro: DPeA, 2002.