É de minha opinião que Evangelho do Amor não combina com o dogma das atuais igrejas evangélicas.
Toda a Lei e os Profetas, segundo Jesus Cristo, resume-se em Amar.
Mas há quem prefira odiar. E utilizam qualquer microfone para apregoar o ódio, a segregação, a acepção e a discriminação (se o púlpito fosse o Santo dos Santos, sairiam de lá puxados - mortos - se me entende).
O chamado Mundo Gospel vive um desses momentos extremos e fundamentalistas, capitaneados por alguns dos maiores nomes do evangelho do dinheiro e seus jatos particulares.
A vítima da vez, um pastor que surpreendeu ao defender direitos civis dos homossexuais. O clero informal nomeou representantes, que o desconvidaram a continuar escrevendo na revista evangélica mais antiga do Brasil (Ultimato).
Deus não nada a ver com esses projetos megalomaníacos de dominação
Parabéns ao pastor Ricardo Gondim. Talvez ele seja o Martim Luther King da vez - mesmo que não seja homossexual, como o Martim era negro.
Leia abaixo a carta de despedida do Pastor Ricardo Gondim, após receber "cartão vermelho" da direção do periódico, após sua entrevista à Carta Capital. No post seguinte leia a entrevista na íntegra.
Joserrí de Oliveira Lucena
Despeço-me da Revista Ultimato
Ricardo Gondim
Após quase vinte anos, fui convidado a
“des-continuar” minha coluna na revista Ultimato. Nesta semana, recebi a visita
de Elben Lenz Cesar, Marcos Bomtempo e Klênia Fassoni em meu escritório, que me
deram a notícia de que não mais escreverei para a Ultimato. Nessa tarde,
encerrou-se um relacionamento que, ao longo de todos esses anos, me estimulou a
dividir o coração com os leitores desta boa revista. Cada texto que redigi
nasceu de minhas entranhas apaixonadas.
Fui devidamente alertado pelo rev.
Elben de que meus posicionamentos expostos para a revista Carta Capital trariam
ainda maior tensão para a Ultimato. Respeito o corpo editorial da Ultimato por
não se sentir confortável com a minha posição sobre os direitos civis dos
homossexuais. Todavia, reafirmo minhas palavras: em um estado laico, a lei não
pode marginalizar, excluir ou distinguir como devassos, promíscuos ou
pecadores, homens e mulheres que se declaram homoafetivos e buscam constituir
relacionamentos estáveis. Minhas convicções teológicas ou pessoais não podem
intervir no ordenamento das leis.
O reverendo Elben Lenz Cesar, por quem
tenho a maior estima, profundo respeito e eterna gratidão, acrescentou que
discordava também sobre minha afirmação ao jornalista de que “Deus não está no
controle”. Ressalto, jamais escondi minha fé no Deus que é amor e nos
corolários que faço: amor e controle se contradizem. De fato, nunca aceitei a
doutrina da providência como explicitada pelo calvinismo e não consigo encaixar
no decreto divino: Auschwitz, Ruanda ou Realengo. Não há espaço em minhas
reflexões para uma “vontade permissiva” de Deus que torne necessário o orgasmo
do pedófilo ou a crueldade genocida.
Por último, a Klênia Fassoni
advertiu-me de que meus Tweets, somados a outros textos que postei em meu site,
deixam a ideia de que sou tempestivo e inconsequente no que comunico. Falou que
a minha resposta à Carta Capital sobre a condição das igrejas na Europa passa a
sensação de que sou “humanista”. Sobre meu “humanismo”, sequer desejo reagir.
Acolho, porém, a recomendação da Klênia sobre minha inconsequência. Peço perdão
a todos os que me leram ao longo dos anos. Quaisquer desvarios e
irresponsabilidades que tenham brotado de minha pena não foram intencionais.
Meu único desejo ao escrever, repito, foi enriquecer, exortar e desafiar
possíveis leitores.
Resta-me agradecer à revista Ultimato
por todos os anos em que caminhamos juntos. Um pedaço de minha história está
amputada. Mas a própria Bíblia avisa que há tempo de plantar e tempo de
arrancar o que se plantou. Meu amor e meu respeito pela família do rev. Elben,
que compõe o corpo editorial da Ultimato, não diminuíram em nada.
Continuarei a escrever em outros
veículos e a pastorear minha igreja com a mesma paixão que me motivou há 34
anos.
Ricardo
Gondim
Soli Deo Gloria
20-05-11