quinta-feira, 14 de abril de 2011

Som e Fúria

A matéria é das boas e mostra o que ocorre quando um chefe, mesmo competente, mas inábil em gerenciar pessoas, impõe suas novas regras... sem diálogo.

Melhor ler e entender o que está ocorrendo com a Orquestra Sinfônica Brasileira, sob a regência de Roberto Minczuk, con:forme publicado em Opiniãoenotícia:


SOM E FÚRIA

Minczuk impedido de reger a OSB Jovem

Mergulhado numa onda de vaias e aplausos, maestro responsável por demitir 40 dos mais de 80 profissionais da OSB 'sênior' deixa o palco minutos após surgir das coxias. Por Clóvis Marques


Uma vaia estrondosa acompanhada de aplausos frenéticos e uma rebelião dos jovens músicos, ou parte deles, impediram o maestro Roberto Minczuk, neste sábado 9, de reger no Teatro Municipal do Rio de Janeiro a Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem, naquele que seria o concerto de abertura da temporada da OSB no annus horribilis da pior crise de sua história.
Já na entrada do teatro os ânimos exaltados se mostravam. Cerca de quarenta dos mais de oitenta profissionais da OSB “sênior” foram demitidos nas últimas semanas por se terem recusado a aceitar o processo de reavaliação interna mais imposto que proposto por Minczuk e a Fundação Orquestra Sinfônica Brasileira, em moldes nunca vistos de busca cega de “resultados” sem cuidados elementares de relações humanas e profissionais.
Músicos demitidos da OSB fazem manifestação em frente ao teatro (Fonte: OGlobo)
Instrumentistas vestidos de negro tocavam na escadaria, ostentando faixas com dizeres como “44 músicos demitidos da OSB por abuso de poder” ou “Morta aos 70”, referência à idade completada pelo conjunto em 2010. Um panfleto distribuído ao público historiava a crise iniciada em janeiro, do ponto de vista dos músicos. De relevância em relação ao que tem sido veiculado na internet e na imprensa, eles afirmam no texto que discordam “do novo regimento interno, que propõe mudanças nas relações trabalhistas, tais como a carga de trabalho dobrada, sob a promessa de aumento salarial [piso elevado de aproximadamente R$ 6 mil reais para cerca de R$ 9 mil), que é, de fato, uma mágica financeira onde se cortam benefícios e anuênios”.
Uma reunião fora realizada na noite de sexta-feira, 8, com a Fundação, para tentar negociar, mas aparentemente os músicos exigem a readmissão preliminar dos afastados. Um deles disse-me terem ouvido então propostas que consideram insatisfatórias: os demitidos “podem” ser readmitidos, mas com advertências; ficam mantidas as audições; e Minczuk fica no posto.
SOM E FÚRIA - A casa não estava lotada. Os músicos da OSB Jovem – cuja mobilização este semestre no lugar dos profissionais, enquanto se desenrolasse a reformulação dos quadros da OSB, tem sido criticada como uma inadequação ética, no mínimo – foram mais longamente aplaudidos que de hábito ao entrarem no palco. O público, ou parte dele, já parecia dizer algo...
Mal apareceu das coxias, Minczuk foi mergulhado numa onda instantânea de vaias e aplausos; parecia programado, mas o público estava dividido, e os mais ruidosos levaram a melhor. O maestro curvou-se com a mão no coração diante do apupo gigante que não parava, mas acabou achando melhor dar as costas ao público. Nisto, muitos músicos da OSB Jovem se levantaram e deixaram o palco. Minczuk não demorou a fazer o mesmo, enquanto o barulho continuava em fúria crescente.
Sucederam-se longos minutos de vontade de soltar raiva e dar opinião. Enquanto os líderes da rebeldia na OSB Jovem tentavam falar sem ser ouvidos (o microfone lhes foi negado: não funcionava e logo foi retirado), muitos no público agora escandiam a palavra “maestro” ou o nome “Roberto”, querendo que Minczuk voltasse para se manifestar. Não rolou.
O violinista Ayran Nicodemo tentou demoradamente obter silêncio para ler um manifesto em nome da OSB Jovem, ou de sua parte mais militante, mas acabou recitando o texto sem ser ouvido. Voltaria a fazê-lo nas escadarias mais tarde um pouco, depois que o impasse definitivo se configurou e o público foi convidado por alto-falante a se retirar.
Em seu manifesto, os rebeldes da OSB Jovem se insurgiram contra o fato de “uma ação imoral [as demissões] encontrar respaldo na lei”; invocando valores como “diálogo”, “verdade” e “respeito” (palavra aliás muito gritada também na plateia, pelos que exigiam ouvir música), anunciavam que se recusavam a tocar por estarem sendo “usados para substituir” os músicos profissionais.
Neste domingo 10 haveria novo concerto da OSB Jovem com Minczuk no mesmo programa, cujo boicote já fora anunciado antes do incidente deste sábado pelos bailarinos Ana Botafogo e Alex Neoral, convidados a participar de um número sobre o Adágio para cordas de Barber. As outras peças do programa seriam o Tributo a Portinari de César Guerra-Peixe e os Quadros de uma exposição de Mussorgsky-Ravel.
Com a indignação causada pelos métodos adotados pela direção da OSB e seu maestro, era de se esperar uma reação dessa natureza. Será demorada e dolorosa, se for possível, a reconstituição do tecido de confiança e harmonia, digamos, musical. No calor dos acontecimentos, não devemos esquecer que a OSB precisa mesmo ser aperfeiçoada como instrumento musical, e que é possível que por trás da reação corporativa e profissional dos seus músicos haja também resistência à mudança pura e simplesmente. Mas aperfeiçoar uma orquestra requer muito tempo, liderança (misto de competência e humildade) e presença/dedicação do maestro em moldes que hoje em dia parecem cada vez mais raros…
Atualização: na manhã deste domingo a orquestra enviou e-mail cancelando o concerto que seria realizado.

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